Doença de Parkinson: por que está a aumentar?

Saúde e Medicina
Última atualização: 04/07/2022
  • Com a esperança média de vida a estender-se, estima-se que nos próximos vinte anos cerca de 30 000 portugueses venham a ser afetados pela doença de Parkinson.
  • Na maioria dos casos não existem fatores genéticos identificáveis, pelo que o estilo de vida e outros fatores ambientais parecem desempenhar um papel relevante no aparecimento da doença.
  • Sintomas como tremores e rigidez muscular são os mais associados à doença de Parkinson, mas a atenção a sintomas não motores pode permitir um diagnóstico precoce.
  • A terapêutica farmacológica e a cirurgia, assim como a adaptação dos espaços da casa de forma a facilitar a mobilidade do doente, permitem aumentar a sua qualidade de vida.
parkinson

Numa entrevista ao neurologista Martinho Pimenta, explicamos a que sintomas deve estar atento, como minimizar o impacto da doença e quais as terapêuticas existentes.

A doença de Parkinson é uma doença neurológica que provoca movimentos involuntários, como tremores, mas também rigidez muscular e dificuldade de equilíbrio e coordenação motora.

Os sintomas começam gradualmente e tendem a agravar-se com o tempo. Embora qualquer pessoa possa desenvolver a doença de Parkinson, alguns estudos sugerem que esta doença afeta mais os homens do que mulheres. A maioria das pessoas com Parkinson desenvolve a doença após os 60 anos, mas aproximadamente 5% a 10% desenvolvem a doença antes dos 50 anos.

As causas da doença de Parkinson são desconhecidas. Mas, face a estudos recentes, médicos e comunidade científica acreditam que a doença seja resultado da interação de fatores genéticos e ambientais. “Os fatores genéticos são responsáveis apenas por uma pequena parte dos casos da doença de Parkinson e, regra geral, estão associados a formas mais precoces da doença. Cerca de 90% dos casos não têm uma causa genética identificável”, afirma Martinho Pimenta, neurologista no Hospital CUF Infante Santo.

“Os fatores ambientais têm a ver com estilo de vida e também com o meio envolvente. O uso de pesticidas está identificado como uma das causas mais frequentes para a doença de Parkinson. Por outro lado, também está provado que o consumo elevado de laticínios é um fator de risco para esta doença”, refere o médico. Outros fatores que também estão associados ao aparecimento da doença são a oforectomia (excisão dos ovários) e os traumatismos cranianos. “Enquanto episódio único, quanto mais recente e mais severo o traumatismo, maior o risco de desenvolver a doença. Já os chamados traumatismos cranianos minor, sofridos repetidamente – como acontece em desportos como o boxe –, podem favorecer o aparecimento de parkinsonismo e demência”, explica Martinho Pimenta.

Fatores protetores 

Também existem fatores que a ciência pensa ajudarem a evitar a doença de Parkinson. Substâncias como a cafeína e até a nicotina estão associadas a um menor risco de aparecimento da doença. Atualmente estão a ser feitos estudos para tentar definir as quantidades de cafeína e nicotina necessárias para a prevenção da doença de Parkinson ou para o atraso da sua progressão. Por seu turno, a dieta mediterrânica, com um consumo diário de fruta, vegetais e peixe, parece evitar o desenvolvimento da doença.

Sintomas: mais do que tremores

Os sintomas mais facilmente associados à doença de Parkinson são o tremor, a rigidez e a bradicinesia – uma lentidão anormal nos movimentos. Contudo, a investigação recente dá cada vez mais atenção aos sintomas não-motores, na perspetiva de se alcançar um diagnóstico precoce.

Os primeiros sintomas desta doença são subtis e surgem de forma gradual. Os sintomas fazem sentir-se frequentemente de um lado do corpo e, à medida que a doença progride, acaba por afetar ambos os lados. No entanto, é comum que os sintomas sejam mais severos num lado do corpo.

Sintomas como obstipação, distúrbios de sono – em particular o distúrbio comportamental do sono REM, com grande agitação noturna – as alterações do olfato e também a depressão surgem associados à doença de Parkinson, por vezes uma ou duas décadas antes do aparecimento da sintomatologia motora. Os amigos ou familiares são muitas vezes os primeiros a notar estas mudanças. Podem registar-se alterações na fala, diminuição do tamanha da caligrafia, que se torna mais apertada ou pequena, falta de expressão facial ou ainda mudanças na forma como os doentes movimentam um braço ou uma perna.

Terapêutica permite manter qualidade de vida

“Das doenças neurodegenerativas, a doença de Parkinson é talvez das que tem uma sobrevida mais longa”, afirma o neurologista, que sublinha a importância da terapêutica farmacológica para o aumento da qualidade de vida do doente que, se for bem acompanhado, pode manter-se autónomo durante vários anos.

O tratamento da doença é feito numa fase inicial com fármacos agonistas dopaminéricos, que atuam sobre os recetores da dopamina. “A levodopa (um fármaco do grupo dos antiparkinsónicos) é o tratamento mais eficaz desta doença. A ausência de resposta a uma dose suficiente de levodopa exclui o diagnóstico de doença de Parkinson. Por outro lado, a melhoria da sintomatologia motora, com levodopa, é um dos critérios de diagnóstico da doença”, garante o especialista.

Tratamento cirúrgico

Embora a terapêutica farmacológica seja muito importante – e a aplicar em todos os doentes - o tratamento cirúrgico, através da estimulação cerebral profunda, é hoje uma técnica muito eficaz. “Normalmente é reservada para fases mais avançadas da doença, em que a terapêutica farmacológica já não atua. A experiência mostra que talvez esta seja uma técnica que não deva reservar-se apenas para fases tardias. A cirurgia – em que é restabelecida a normalidade nos circuitos neuronais da base do cérebro – é feita há cerca de 20 anos e os resultados são muito bons”, afirma Martinho Pimenta.

Uma casa à medida

E, se o tratamento é importante, em casa família e restantes cuidadores também têm um papel indispensável. “É importante que se criem espaços de circulação mais amplos e que haja uma adaptação da habitação, por exemplo com cadeiras mais altas para que o doente tenha menos dificuldade em levantar-se ou suportes na casa de banho, para evitar quedas e facilitar a locomoção”, exemplifica o especialista. Em casa, ou recorrendo a fisioterapia, o treino da marcha e do equilíbrio também são importantes para manter a mobilidade e evitar quedas.

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