Gravidez: existe mesmo um relógio biológico?
- Muitas vezes, os casais atrasam a maternidade devido ao dilema imposto à mulher entre ter filhos ou continuar a subir na carreira, entre outros fatores.
- O momento biológico ideal para a mulher engravidar situa-se entre os 20 e os 30 anos, no entanto, tal não verifica no homem num ponto de vista biológico.
- Atualmente, a maternidade tardia é mais comum devido as todos os fatores que contribuem para essa escolha (sociais, económicos ou profissionais).
- Os benefícios de serem pais mais tarde recaí na sua maturidade em tratar dos filhos e na estabilidade financeira. As desvantagens são do foro genético e nas complicações durante a gravidez.
- O segredo para uma gravidez tranquila, mesmo mais tarde na vida, é levar um estilo de vida saudável e seguir os conselhos e cuidados recomendados pelo seu médico.
Hoje em dia, por causa de fatores sociais, económicos e profissionais é cada vez mais comum um casal só ter filhos após os 35 anos. No entanto, é necessário que conheça os vários riscos e cuidados a ter nesta fase.
Os dilemas
O desejo de ter filhos é transversal a homens e mulheres, embora o “alarme” possa soar em momentos diferentes. Para Alberto Fradique, médico ginecologista e obstetra, o relógio biológico pode ser comparado ao “instinto de reprodução e esse é comum a todos os animais”. De facto, este termo, que inicialmente definia ciclos biológicos como o do sono, adquiriu o significado que tem hoje na década de 70, quando se começou a falar do dilema feminino: filhos ou carreira. Atualmente esta questão persiste e explica, em parte, a maternidade tardia cada vez mais frequente. Em Portugal, os dados provenientes da PRODATA revelam isso mesmo: em 2000, a idade média da mãe no nascimento do primeiro filho era 26,5 anos, em 2021 passou a ser 30,9. Conhecer os riscos e os cuidados é essencial para uma gravidez tranquila em qualquer fase da vida.
Momento perfeito
Biologicamente falando, a idade ideal para engravidar, de acordo com Alberto Fradique, “situa-se entre os 20 e os 30 anos, altura em que há menos problemas de saúde e a pessoa tem mais resistência. Embora o corpo da mulher esteja preparado para uma gravidez, esta é uma sobrecarga para o organismo, portanto se for mais nova terá melhores condições.” A este facto acresce o risco de doenças genéticas, que aumenta com a idade. No sexo masculino esta barreira temporal não é tão linear. “Do ponto de vista biológico, não há um aumento de defeitos cromossómicos como existe na mulher, mas pode haver mais dificuldade em engravidar, a vitalidade dos espermatozoides pode ser menor”, exemplifica.
Mãe após os 35
Atualmente, há cada vez mais mulheres a terem filhos mais tarde. Uma questão que não se prende com o relógio biológico, mas com “os fatores sociais, económicos, aspirações de independência e de carreira que as mulheres têm”, afirma Alberto Fradique. Acresce ainda o contexto de crise em económica que leva casais a adiar esta decisão. Um adiamento que passou de exceção, há algumas décadas, a ser quase uma regra, recorda o médico: “Quando me formei, uma grávida aos 35 anos era classificada como uma grávida idosa, depois passou designar-se gravidez tardia. Nesse tempo eram situações especiais, agora já são muito frequentes.”
Prós e contras
Será que ser mãe mais tarde traz benefícios? Na opinião de Alberto Fradique, a principal vantagem estará na “maior maturidade dos pais nestes casos. As desvantagens são do foro biológico, com maior incidência de complicações durante a gravidez.” Adicionalmente, a estabilidade financeira dos casais participa na decisão de serem pais mais tarde, o que também traz benefícios para a criança. Seja qual for a designação usada para a gravidez tardia, o facto é que o avançar da idade comporta riscos, “nomeadamente do ponto de vista genético”, explica o médico: o risco de “doenças genéticas como a Trissomia 21 aumenta. Esse aumento não é linear, entre os 20 e os 35 anos sobe muito pouco, entre os 35 e os 40 mais, daí até aos 45 acentua-se e depois é quase uma subida na vertical. Aos 50 anos estima-se uma probabilidade de um em cada dez casos”. Além destas doenças, há que ter em conta a resistência do organismo às mudanças físicas impostas pelos nove meses de gravidez. “Há mais tendência para diabetes, hipertensão na gravidez”, o que traz cuidados acrescentados à pessoa gravida.
Gravidez tranquila
Seguir um estilo de vida saudável é o passaporte para uma gravidez tranquila, é o que promove o manual sobre a Alimentação e Nutrição na Gravidez da Direção-Geral de Saúde. Adicionalmente, é recomendado evitar consumir cafeina e álcool durante a gravidez. A cafeina diminui a absorção de ferro na pessoa grávida. A alimentação deve valorizar os produtos frescos e nutritivos, em detrimento das opções processadas ou ricas em açúcar e gorduras, a atividade física deve ser regular. Moderação é a palavra-chave, defende o médico, para quem os cuidados são “ter uma vida moderada – na alimentação, no desporto. Não há problema em ter atividade física ou sexual na gravidez, mas devem ser evitadas situações de cansaço extremo ou com risco de quedas. Durante a gravidez o centro de gravidade da mulher muda e o risco de acidentes é maior. Caminhar e manter algum tipo de movimento diário é bom, mas correr até à exaustão já não.” O ritmo de vida deverá ser adaptado em função do tempo de gravidez. “É comum no último mês a mulher repousar mais em casa. Nas mulheres que engravidam mais tarde a necessidade de interrupção da atividade pode surgir mais cedo”, alerta o especialista.
Na gravidez após os 35 anos, a agenda de consultas de gravidez segue o esquema normal. “O acompanhamento médico é semelhante, mas há um rastrear mais atento dos problemas genéticos”, sublinha Alberto Fradique.
A gravidez após os 35 anos é uma opção cada vez comum por várias razões, mas que requer cuidados especiais. Um estilo de vida saudável, uma alimentação equilibrada e diversa e o acompanhamento médico adequado permitem viver esta etapa sem problemas.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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