Herpes labial: sabe mesmo como evitar e tratar?
- O herpes labial é uma infeção viral transmitida por proximidade com pessoas que apresentem lesões ativas, afetando a pele e as mucosas na região da boca, que deve ser tratada o quanto antes.
- O risco de infeção é alto pois o vírus é extremamente contagioso, mas há fatores que tornam uma pessoa mais suscetível a ser infetada.
- Evitar o contágio é possível sendo que algumas medidas preventivas sejam tomadas.
- O vírus permanece latente no corpo depois da primeira infeção, mas pode reaparecer devido, por exemplo, ao excesso de radiação solar– deve-se manter em alerta.
- O herpes é benigno e não tem complicações associadas, a necessidade de acompanhamento médico reserva-se para casos especiais – doentes imunodeprimidos ou com formas graves ou frequentes da doença.
Para algumas pessoas, apanhar sol pode ser sinónimo de herpes labial, razão por que convém redobrar os cuidados nesta altura do ano. Letícia Cabral, especialista em Medicina Geral, explica que infeção é esta, como se transmite e quais são os tratamentos disponíveis.
Herpes labial: o que é?
Ardor, comichão, formigueiro, aumento da sensibilidade, aparecimento de uma mancha vermelha, inchaço ou dormência, tudo isto na zona dos lábios. Estes sintomas são-lhe familiares? É muito provável que a resposta seja afirmativa, já que a Organização Mundial de Saúde estima que, em todo o mundo, cerca de 3700 milhões de pessoas com idade inferior a 50 anos (67%) sejam portadoras do Vírus Herpes Simplex tipo I (HSV1), responsável pelo herpes labial, uma infeção frequente que pode afetar a pele e as mucosas. A família dos vírus herpes inclui infeções muito comuns também como a varicela.
De acordo com Letícia Cabral, especialista em Medicina Geral e Familiar, a primeira vez que a pessoa é infetada “ocorre geralmente na infância e é frequentemente assintomática, mas há casos em que pode originar gengivo-estomatite aguda”, isto é, uma infeção muito contagiosa caracterizada por febre alta e presença de pequenas lesões dolorosas nas gengivas, lábios e língua. “O vírus permanece depois latente ao longo da vida, podendo sofrer reativação em determinadas circunstâncias sob a forma de acesso recorrente de herpes labial”, explica.
Na forma mais usual, o herpes labial manifesta-se através de “lesões vesiculares ou úlceras na face externa dos lábios, nas regiões à volta dos lábios ou no nariz”, e “os sintomas e sinais são variáveis”. Algumas pessoas podem referir sintomas como ardor, prurido, formigueiro, sensibilidade, inchaço ou dormência na área afetada, sendo também possível “observar uma mácula vermelha que pode estar recoberta por vesículas que podem romper e originar exsudado”, diz, referindo-se às pequenas bolhas características desta infeção, que depois de rebentadas dão origem a uma ferida. Além disso, há quem relate “dor ao ingerir alimentos”. Em regra, “as lesões podem cicatrizar em duas a três semanas sem deixar cicatriz”.
Quem está em maior risco?
Toda a gente pode contrair herpes labial, tendo em conta que o vírus “é extremamente contagioso e pode ser adquirido através de proximidade, como ao beijar ou ao partilhar objetos pessoais com quem apresenta lesões ativas”. Ainda assim, há fatores que podem facilitar o aparecimento de herpes labial, nomeadamente, infeções como gripe ou constipação, febre, fadiga, stress intenso, doenças autoimunes, tratamento com antibióticos ou exposição excessiva ao sol.
Apesar de esta ser “uma doença benigna e com um curso autolimitado”, Letícia Cabral adverte que “pode ser mais grave em doentes imunocomprometidos”, ou seja, que tenham o seu sistema imunitário de alguma forma afetado, por exemplo, portadores do vírus da imunodeficiência humana (VIH), doentes que tenham realizado um transplante de órgão ou recebido quimioterapia. Também quem sofre de dermatite atópica está mais suscetível a complicações, pelo que deve manter vigilância.
Evitar o contágio é fundamental
É possível estar-se infetado sem nunca apresentar sinais ou sintomas, mas mesmo nestes casos é possível transmitir o vírus. Ainda assim, este é mais contagioso quando se encontra ativo e as pequenas bolhas são visíveis, porque se propaga de maneira mais rápida através dos fluidos corporais. Para evitar o contágio, há que proceder da seguinte forma:
- Manter precaução quando a pessoa apresenta as lesões ativas, nomeadamente, evitando beijos ou a partilha de objetos de uso pessoal, como copos, talheres, batons, toalhas ou outros utensílios;
- Não esfregar os olhos ou pálpebras;
- Evitar tocar nas lesões, dando especial atenção à higiene das mãos para evitar transmitir o vírus (não só a outras pessoas como também a outras partes do corpo);
- Depois da aplicação da medicação, as mãos devem ser muito bem lavadas com água e sabão suave, finalizando com uso de antissético.
Tratamento do herpes labial
Em muitos casos, o vírus do herpes permanece inativo durante algum tempo, podendo manifestar-se de repente, por exemplo, devido a um quadro de febre, sistema imunitário enfraquecido, excesso de sol ou alterações hormonais.
É importante iniciar o tratamento quanto antes, de preferência, nas primeiras 48 horas após o aparecimento de sintomas. Quanto ao tratamento a administrar, este dependerá de diversos fatores, entre os quais, o estado do sistema imunitário do doente; a localização e a gravidade das lesões; a existência, ou não, de gravidez; o facto de se tratar da primeira vez que se tem a infeção ou se ela é recorrente e ainda a frequência das crises.
Nas palavras de Letícia Cabral, “o objetivo principal é reduzir a frequência e a gravidade do herpes labial, aliviando sintomas e reduzindo a probabilidade de infeções bacterianas secundárias”. Nesse sentido, realça que “os protetores tópicos, como a alantoína, a vaselina e o óxido de zinco, podem aliviar a secura da pele e prevenir as fissuras”, o que minimiza o risco de outras infeções.
É comum o tratamento com antivíricos, nomeadamente com Aciclovir, que “encurta a duração da febre, das lesões labiais e orofaríngeas, assim como reduz as dificuldades de ingestão alimentar e atenua a reprodução do vírus”. Letícia Cabral sublinha que o Aciclovir, em creme ou pomada, “deve ser usado até cinco vezes por dia até 10 dias, no máximo”. Por outro lado, indica que “os pensos com hidrocoloides mostraram recentemente evidência no tratamento, com uma eficácia semelhante ao Aciclovir em creme e com boa tolerância”. Já os antivíricos orais “podem ser usados em casos graves ou em doentes imuno-comprometidos com risco de desenvolvimento de complicações, sendo geralmente bem tolerados”.
Atenção às crises seguintes
Após um primeiro episódio de herpes, o vírus permanece latente e pode voltar a surgir novamente no mesmo local. De acordo com a especialista em Medicina Geral e Familiar, “a recorrência é menos grave do que a infeção primária”, sendo normalmente antecedida por uma sensação de queimadura, que se manifesta antes do aparecimento propriamente dito da lesão.
O tratamento destes novos episódios “deve ser iniciado ao mínimo sinal de recorrência” e “o médico pode aconselhar medicação em casos de infeção com seis ou mais episódios num ano”, esclarece, acrescentando que “os tratamentos com os antivíricos Aciclovir e Valaciclovir provaram reduzir as lesões em um a dois dias”.
O efeito do sol – atenção ao verão
Para algumas pessoas, o sol é um fator que pode desencadear o aparecimento do herpes labial. A médica lembra que quem se encontra nesta situação “deve usar um protetor solar nos lábios e no rosto para diminuir as recorrências”. “O antivírico tópico ou oral iniciado antes da exposição solar pode proporcionar alguma proteção”, salienta ainda.
Quando consultar um médico?
Tendo em conta que o herpes labial é uma doença benigna e, em regra, sem complicações associadas, a necessidade de acompanhamento médico reserva-se para casos especiais. Entre estes, destacam-se os já referidos “doentes imunodeprimidos ou que apresentem formas graves ou frequentes”. Para estes, recomenda-se tratamento precoce, podendo estar também “indicado um tratamento crónico sistémico prescrito por um médico”.
A especialista lembra ainda que o acompanhamento por um clínico é recomendado “se ocorrer um quadro de erupção com febre intensa ou dor com intensidade grave, assim como se as vesículas se expandirem além dos lábios e da face, em especial para os olhos, ou se não houver melhoria dos sintomas após uma semana de tratamento”. Por outro lado, “se as crises de herpes labial forem superiores a seis por ano é aconselhável também uma avaliação médica”.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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