O conceito de burnout surgiu em 1974 pelo psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger, que o denominou como “um estado de esgotamento físico e mental, cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”. Segundo dados da Associação Portuguesa de Psicologia da Saúde Ocupacional, 13,7% das pessoas ativas em Portugal estavam em estado de burnout em 2016. No mesmo ano, 82% estavam em risco elevado de entrar em burnout.
Foi precisamente o que aconteceu com Maria (nome fictício). “O perigo do burnout é não nos apercebemos quando este se aproxima. Sentimos muito cansaço, mas achamos normal tendo em conta a vida frenética que levamos”. No seu caso, já estava com um esgotamento profundo quando foi diagnosticada. Os primeiros sinais que teve foram de fadiga exagerada, falta de energia mesmo depois de ter descansado, sensação de ansiedade e dificuldades em dormir. “E a razão porque cheguei a esse ponto foi, precisamente, porque subestimei o meu nível de cansaço”, explica.
Para o psiquiatra Mário David, o termo anglo-saxónico burnout está ligado à conceptualização do stress. “Não acho a expressão muito feliz. Prefiro dizer depressão de exaustão ou, em português correto, síndrome de exaustão”. É um quadro clínico que deriva dos efeitos stressantes psicossociais do cérebro. Ou seja, não advém só do excesso de trabalho, como também da falta de descanso e sono. “E este problema também se deve às condições psicológicas em que as pessoas andam. De cansadas que estão, não aguentam o stress do próprio trabalho”, acrescenta.
Sinais e sintomas de burnout
Antes de tratar ou até prevenir o burnout, tem de conseguir identificar os sintomas para que possa agir a tempo.
Físicos
- Sensação de cansaço na maioria do tempo;
- Fragilidade do sistema imunitário;
- Dores de cabeça, lombares e musculares frequentes;
- Alterações no apetite;
- Alterações no sono.
Emocionais
- Sentimento de fracasso, derrota e desamparo;
- Sentimento de solidão;
- Falta de motivação;
- Negativismo;
- Diminuição da satisfação e do sentimento de realização profissional e pessoal.
Comportamentais
- Isolamento;
- Lentidão na realização das tarefas habituais;
- Dificuldade em assumir as responsabilidades habituais;
- Consumo excessivo de comida, álcool ou drogas;
- Absentismo, chegar atrasado ou sair mais cedo do trabalho;
- Modificação dos padrões de comportamento habituais.
Segundo a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, os riscos psicossociais e o stress relacionado com o trabalho são das questões que maiores desafios apresentam em matéria de segurança e saúde no trabalho. Têm um impacto significativo na saúde de pessoas, organizações e economias nacionais. “Se forem abordados enquanto problema organizacional e não como uma falha individual, os riscos psicossociais e o stress podem ser controlados da mesma maneira que qualquer outro risco de saúde e segurança no local de trabalho”, afirma esta Agência.
O psiquiatra Mário David defende que as pessoas têm de ter tempo de pausas, seja para elas próprias, quer para descansar. “O problema é que já não vivem na realidade, mas no virtual. Com as redes sociais esquecem-se do que as rodeia e fazem uma má gestão de tempo”, alerta o psiquiatra. A Internet levou a uma desorganização mental e a quadros de desmotivação, ansiedade, cansaço crónico e desinteresse. “Estamos a assistir a uma perda de civilização, de tudo o que se sabia como regra saudável. Já não há regras, não há horários, tudo é possível”, salienta.
A solução passa por estabelecer princípios de higiene para a saúde mental e física. Fazer pausas, ter tempos livres, respeitar os horários de sono, fazer uma alimentação saudável e equilibrada e praticar desporto são algumas das formas suplementares para evitar a exaustão e qualquer outra doença mental. “Também têm de existir novas regras para lidar com os novos fenómenos, como as redes sociais e a dependência à tecnologia”, aconselha o psiquiatra.
Burnout, uma doença com cura
Para conseguir ultrapassar o burnout, Maria desacelerou e descansou. “Nas primeiras semanas dormi cerca de 16 horas por dia. Para gerir a ansiedade fiz um curso de meditação que ajudou muito no meu foco, na minha ansiedade e, muito importante, a aceitar os meus limites sem culpa”, explica. Aliás, a aceitação foi o primeiro passo para a cura. Começou a praticar Ioga e Pilates para manter o corpo são e continuo a meditação para manter a cabeça sã. Para além do apoio da minha família e amigos, consultou uma psicóloga que a ajudou a aceitar a minha condição e ensinou a analisar o que a levou a este extremo. “Tudo para não voltar a cometer os mesmos erros de forma a não ter uma recaída”, desabafa Maria.
6 ferramentas para prevenir e ultrapassar uma situação de burnout
Para o seu bem-estar físico e mental, introduza estes hábitos na sua rotina.
1. Comece o dia com um ritual de relaxamento: Em vez de saltar da cama assim que acorda fique, pelo menos, 15 minutos deitado a meditar, a escrever no seu diário, a espreguiçar-se suavemente ou a ler algo que o inspire.
2. Adote um estilo de vida mais saudável: Coma corretamente, pratique exercício regularmente e descanse o suficiente. Assim vai ter mais energia para lidar com as dificuldades da vida.
3. Estabeleça limites: Não se sobrecarregue – aprenda a dizer “não”. Ao dizer “não” a algumas coisas, isso vai permitir que diga “sim” ao que verdadeiramente importa.
4. Faça uma pausa diária de tecnologias: Estabeleça um tempo por dia para se abstrair de todas as tecnologias. Deixe de lado o seu computador, desligue o seu telemóvel.
5. Potencie o seu lado criativo: A criatividade é um antídoto poderoso para o burnout. Experimente algo novo, comece um projeto divertido ou continue a realizar o seu hobbie Escolha atividades que não estejam relacionadas com o seu trabalho.
6. Aprenda a gerir o stress: Quando os sintomas de burnout começam a aparecer, poderá sentir-se incapaz. No entanto, tem muito mais controlo sobre o stress do que pensa. Aprender a gerir o stress pode ajudá-lo a restabelecer o equilíbrio que precisa.
O burnout é um estado de exaustão física e mental que ocorre quando tudo é levado ao limite. Esteja atento aos seus sinais, escute o seu corpo e garanta um apoio emocional forte.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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