Antinutrientes, o lado desconhecido dos alimentos
- Os antinutrientes são constituintes dos alimentos que interferem na absorção dos nutrientes pelo nosso organismo, reduzindo, assim, os seus benefícios.
- Os principais antinutrientes dão pelo nome de inibidores de proteínas, oxalatos, taninos, nitritos e fitatos (ou ácido fítico) e estão presentes sobretudo nos grãos e sementes de cereais, nas leguminosas e frutos secos, mas também nos legumes.
- Os antinutrientes não devem ser vistos como vilões, pois também têm um lado positivo, nomeadamente na prevenção da osteoporose ou na proteção do sistema imunitário, funcionando como antioxidantes e prevenindo, dessa forma, o envelhecimento precoce.
- Existem formas de evitar o excesso de antinutrientes na alimentação, bastando na maior parte das vezes demolhar os alimentos.
Ouvimos falar muitas vezes em nutrientes. Mas sabe o que são os antinutrientes? São constituintes dos alimentos que interferem com o processo de absorção e que, por isso, podem prejudicar o bom funcionamento do nosso organismo. Dado o impacto que podem ter na saúde e bem-estar, importa conhecê-los melhor.
Nutrientes vs. antinutrientes
Todos sabemos, em maior ou menor grau, o que são nutrientes.
Tratam-se dos componentes dos alimentos que, uma vez ingeridos, o organismo utiliza nos seus diversos processos
metabólicos como a construção de tecidos ou a gestão da energia, para, assim, assegurar um bom funcionamento.
Contudo, o que talvez nem todos saibamos é que também existem os chamados antinutrientes. E, como a própria palavra
indica, são elementos que agem contra os nutrientes.
Vejamos um exemplo prático: quantas pessoas não se
queixam de que a ingestão de feijões causa flatulência? Muitas, certamente. E a culpa é, exatamente, dos
antinutrientes existentes naquela leguminosa. São eles que fazem com que determinados alimentos sejam de digestão
difícil, na medida em que interferem na absorção dos nutrientes pelo nosso organismo, reduzindo, assim, os seus
benefícios.
Antinutrientes: grãos e sementes
Os principais antinutrientes dão pelo nome de inibidores de proteínas, oxalatos, taninos, nitritos e fitatos (ou
ácido fítico). Estão presentes sobretudo nos grãos e sementes
de cereais, nas leguminosas e frutos secos, mas também nos legumes.
Isto não acontece por acaso: é que
fazem parte dos mecanismos de defesa das plantas. Assim como alguns animais têm um revestimento duro ou espinhoso,
de modo a evitarem ataques de predadores, também as plantas procuram sobreviver, não servindo de alimento aos
animais. Na verdade, apenas o estômago das aves está preparado para a digestão de grãos e sementes, pelo que todos
os outros animais, incluindo os seres humanos, têm dificuldade na sua digestão e é precisamente por isso que os
cozinhamos. De qualquer forma, saiba que o facto de os cozinhar não inibe totalmente a ação dos antinutrientes. Daí
os gases associados à ingestão de feijão. Mas também outros sintomas como inchaço do abdómen, cólicas ou mesmo dor. Além disso, se forem ingeridos
em quantidades elevadas o impacto pode ser ainda mais significativo, podendo diminuir a disponibilidade das
vitaminas e dos sais minerais para os processos metabólicos, bem como causar lesões nas paredes dos intestinos e
desencadear uma resposta inflamatória do organismo.
Vilões ou heróis?
Os alimentos com maiores doses de antinutrientes encontram-se entre aqueles cujo consumo é promovido no contexto de
uma dieta saudável. Mas, sabendo que têm este outro efeito, deverão ser eliminados da nossa alimentação? A resposta
é negativa. Os antinutrientes não devem ser vistos como vilões, até porque também eles têm um lado positivo: é que
desempenham um papel na proteção do sistema
imunitário, funcionando como antioxidantes e, portanto, salvaguardando as células do
chamado stress oxidativo, isto é, do envelhecimento precoce.
Os fitatos, por exemplo, parecem
contribuir para neutralizar a formação de radicais livres, de acordo com um estudo divulgado pelo Journal of Nutrition, havendo também alguma
evidência de que possam prevenir a
osteoporose e promover um melhor controlo da glicémia. Encontramo-los em
alimentos como as leguminosas, isto é, no feijão, nas ervilhas, no grão e nas lentilhas, e ainda em cereais como o
trigo, o milho, a aveia e o centeio. Também as lectinas têm sido estudadas, havendo evidência científica que aponta
para um efeito anti-inflamatório. Entre os alimentos que as contêm incluem-se os cereais e as leguminosas, mas
também legumes como a batata, o tomate e a beringela, e ainda os lacticínios.
Mas há ainda outras razões para
não eliminar da dieta os alimentos que contêm antinutrientes: é que eles são fonte de gorduras e proteínas de origem
vegetal, o que é saudável.
Técnicas para evitar o excesso de antinutrientes
Para contornar os eventuais efeitos negativos, existem formas de evitar o excesso de antinutrientes na alimentação. E como? A maior parte das vezes basta demolhar os alimentos. É que estes encontram-se, quase sempre, na pele, sendo solúveis em água. Aliás, esta é uma prática tradicional nas cozinhas portuguesas, remontando ao tempo em que não havia feijões e grão em conserva. A percentagem de antinutrientes reduzida com esta técnica é variável, mas pode alcançar os 30%, dependendo do tempo de imersão. Também a fervura é eficaz na degradação dos antinutrientes, sobretudo quando se trata de oxalatos, taninos e lectinas. Já os fitatos resistem melhor ao calor.
Nesta matéria, como em praticamente tudo o que respeita a saúde, a moderação é sempre o melhor remédio. É, pois, preciso conviver com as duas faces dos alimentos: nutrientes e antinutrientes – e sempre no contexto de uma alimentação saudável, variada e equilibrada.
O mais importante é o equilíbrio
Ter sempre em atenção a quantidade de doses ingeridas de antinutrientes poderá ser a chave para encontrar o equilíbrio entre os seus efeitos benéficos ou prejudiciais.
É preciso ter ainda em consideração a sua estrutura química, o tempo de exposição, bem como a interação com outros componentes da alimentação. A verdade é que são muitos os fatores que influenciam sua atividade. Por isso, a tomada de consciência por parte dos consumidores é crucial.
Se tem dúvidas, ou se sente alguns dos efeitos menos positivos citados anteriormente, pode sempre consultar um nutricionista para assim poder delinear uma estratégia nutricional eficaz para o seu caso e tendo em conta as especificidades da sua vida.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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