Desafio: prevenir e conhecer a doença coronária
- A doença coronária consiste na insuficiência das artérias coronárias - os vasos sanguíneos encarregues de irrigar o coração.
- O risco da doença varia com o género e idade. Numa fase mais precoce da vida, os homens apresentam um maior risco do que as mulheres. No entanto, depois da menopausa, o risco da mulher acaba por igualar o do homem.
- A adoção de um estilo de vida saudável reduz significativamente a possibilidade de doença.
- A angina de peito, uma dor que surge no peito, é a primeira manifestação da doença coronária.
- O reconhecimento de um enfarte é detetado através dos sintomas apresentados. Após um enfarte dever-se-á agir rapidamente, de modo a evitar efeitos nefastos.
É a doença cardiovascular que provoca mais mortes e afeta as artérias que irrigam o coração. Adotar hábitos saudáveis e saber agir em caso de enfarte é a chave para dar a volta aos números.
As coronárias são artérias situadas na superfície do coração que alimentam o miocárdio (músculo cardíaco) com sangue arterial (rico em oxigénio), para que ele possa bombear sangue para alimentar o resto do organismo. Quando são saudáveis, o seu interior é liso e flexível.
No entanto, como explica o cardiologista Agostinho Caeiro, o estilo de vida contemporâneo afeta frequentemente a sua capacidade de funcionamento: “Pode haver vários tipos de doença coronária. A mais frequente na sociedade ocidentalizada é a doença coronária aterosclerótica, relacionada com a progressão da aterosclerose vascular. Vão-se formando placas de ateroma por infiltração de colesterol nas artérias, que as vai entupindo ao longo dos anos, podendo dar lugar a um enfarte do miocárdio”.
A boa notícia é que esta obstrução que vai reduzindo o calibre das artérias e, assim, o fluxo sanguíneo para o coração, pode ser minimizada.
Uma questão de género
O risco de doença coronária aumenta com a idade, de acordo com o National Institute of Aging, sendo fruto da acumulação progressiva de danos. Mas os homens tendem a ser afetados mais cedo do que as mulheres (por volta dos 50 anos ou antes) e com consequências mais drásticas: “Quando há um enfarte, normalmente é uma placa instável que rebenta, formando um trombo e fechando a artéria, o que faz com que a parte a jusante não seja irrigada (isquemia). Podem criar-se mecanismos elétricos que levam à formação de arritmias ventriculares malignas e dão origem à morte súbita, que pode acontecer em minutos. A pessoa nem se apercebe, percebe que está mal, não sabe porquê e morre”, descreve o cardiologista.
Para as mulheres o risco aumenta, em média, a partir dos 60 anos, já que estão relativamente protegidas até à menopausa: é que os estrogénios (hormonas femininas) “atuam no fígado, aumentando o colesterol HDL, que remove o colesterol LDL das artérias e o leva para o fígado, para ser eliminado”.
A importância do estilo de vida
A par da idade e do género, também a existência de familiares (pais, avós) com problemas cardiovasculares e, em particular, que tenham doença coronária ou tenham falecido de enfarte ou sofrido de morte súbita, é um fator de risco para a doença coronária. Além destes, “há uma série de fatores ambientais que são modificáveis e que vão contribuir para que haja ou não progressão da doença”, salienta Agostinho Caeiro.
De facto, todos os restantes fatores de risco de doença coronária dependem, em grande parte, da adoção de um estilo de vida saudável. É o caso dos níveis de colesterol elevados, que promovem a formação de placas; da hipertensão arterial, que causa endurecimento das artérias; do tabagismo, da diabetes, da obesidade, do sedentarismo e do stress, que agravam os fatores anteriores.
“Se uma pessoa tiver cuidado com a alimentação, mantiver um Índice de Massa Corporal adequado, praticar exercício físico com regularidade, não fumar e mantiver a diabetes, o colesterol e a tensão arterial controladas, irá diminuir a probabilidade de enfarte do miocárdio e de morte súbita”, sublinha o cardiologista.
Angina de peito = alerta
A primeira manifestação da doença coronária é, geralmente, a angina de peito, uma dor que surge no peito, braços ou queixo quando o músculo cardíaco não recebe sangue suficiente. Por norma, ocorre com esforços intensos, emoções fortes ou refeições copiosas, depois de se fumar ou da exposição a temperaturas muito quentes ou frias e desaparece após alguns minutos de repouso. Este tipo de angina (angina estável), é causado por uma placa macia que obstruí parcialmente o fluxo sanguíneo numa ou mais das coronárias.
No entanto, quando a placa gorda dentro de uma artéria sofre uma rutura, criando uma superfície irregular que leva à formação de um coágulo, pode ocorrer uma angina instável, de evolução menos previsível, devido à redução do fluxo sanguíneo. Nestes casos, a dor no peito é mais pronunciada e frequente, ocorrendo muitas vezes em repouso (fazendo despertar a meio da noite) e podendo durar vários minutos a horas. Pode haver sudação intensa e dores no maxilar inferior, ombros e braços.
Ambos os tipos de angina de peito são sinais de alarme que devem motivar uma consulta médica.
Sabe reconhecer um enfarte?
Uma dor ou pressão no peito que irradia para os braços, dorso, pescoço, maxilar ou estômago, acompanhada de dificuldade respiratória e aceleração do batimento cardíaco (ou batimentos irregulares). Estes são os sintomas mais típicos do enfarte agudo do miocárdio, que nas mulheres podem apresentar nuances. O ‘ataque de coração’ é uma das consequências mais comuns da doença coronária e é uma emergência médica. Na sua origem está, normalmente, uma placa instável como a que dá origem à angina instável, mas, neste caso, com interrupção súbita do fluxo sanguíneo: “De repente, há uma placa que rebenta, forma-se um trombo que fecha a artéria e dá-se um enfarte”, descreve Agostinho Caeiro.
A rapidez de atuação é fulcral para limitar as lesões do músculo cardíaco. Mas, primeiro, é essencial reconhecer os sintomas e pedir rapidamente ajuda através do 112.
Depois de um enfarte
“Poupar coração” é a expressão usada pelo cardiologista para justificar a necessidade de agir o mais depressa possível perante um enfarte: “Quando uma artéria entope, a parte do miocárdio que depende dela deixa de ser irrigada e ocorre todo o processo até à morte celular. Quanto mais depressa se abrir a artéria, melhor se conseguirá garantir que aquelas células não irão morrer”.
Quando uma grande área do coração se perde, a consequência é a morte, mas, segundo o especialista, a taxa de mortalidade “anda por volta dos sete a oito por cento ou nem isso”. Na grande maioria dos casos, “a pessoa pode ser reabilitada” com recurso a medicação (para reduzir o risco de novo enfarte) e à adoção de hábitos mais saudáveis – incluindo a prática de exercício físico adaptado, conforme indicação do médico.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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