Obesidade infantil: um problema de peso
- Existem diversos fatores de risco que podem determinar a obesidade.
- Adquirir e manter bons hábitos de vida é um processo contínuo.
- Ensinar bons hábitos alimentares e promover uma mudança de comportamentos é o papel de todos: pais, educadores e profissionais de saúde.
Portugal é campeão europeu em obesidade infantil e é preciso agir para combater este problema, alerta o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Davide Carvalho. Explicamos-lhe quais são os cenários de risco, as consequências deste problema e quais as melhores escolhas alimentares.
Com uma das taxas de obesidade infantil mais elevadas da Europa — de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde — não restam dúvidas: a saúde das crianças portuguesas está em risco. Como defende Davide Carvalho, médico endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO): “A obesidade na criança e no adolescente no nosso país ultrapassou já a dimensão de problema de saúde pública para se tornar num indicador de doença da sociedade.” Para além dos riscos que representa para a criança na fase de crescimento pode ainda comprometer a saúde futura, ao tornar-se irreversível. Regra geral, podemos dizer que uma criança obesa que não altere a sua ingestão calórica e modifique o seu estilo de vida terá poucas possibilidades de ter um peso normal na vida adulta”, explica o médico.
Cenário de Risco
Existem diversos fatores que podem determinar a obesidade na infância. É o caso da história familiar, como adianta Davide Carvalho. “Vários estudos comprovam que os filhos de famílias de pais com excesso de peso ou obesidade estão em maior risco de serem crianças ou adultos obesos.” A par desta herança surgem também os hábitos de vida desadequados com o aporte calórico excessivo e o sedentarismo. São vários os estudos que demonstram que, por um lado “as crianças que não participam em atividades desportivas extraescolares e que são menos ativas parecem ganhar mais peso do que os seus pares mais ativos”, exemplifica o médico endocrinologista frisando ainda que, por outro lado, “o aumento de horas de ecrã — televisão, computador, consolas de jogos — se associa ao aumento da taxa de obesidade.”
O género também pode ter influência na persistência da obesidade. “As raparigas são mais propensas ao desenvolvimento da obesidade durante a adolescência do que os rapazes. Aproximadamente 80% das raparigas adolescentes obesas permanecem obesas, enquanto apenas 30% dos rapazes o fazem”, exemplifica.
Desde cedo deve
Adquirir e manter bons hábitos de vida (alimentação equilibrada, prática regular de atividade física) é um processo contínuo que requer medidas concretas por parte de todos, pais e filhos. A infância e adolescência são fases cruciais em que se dá “a aquisição de hábitos e modelação de comportamentos”, explica Davide Carvalho, realçando que “esta é uma idade de extrema sensibilidade e vulnerabilidade no que respeita sobretudo à prevenção mas também à intervenção terapêutica.” Na opinião deste especialista a missão dos pais passa por ensinar e educar a criança, mas sobretudo por mostrar o exemplo.
Corrigir erros
A prevenção da obesidade na infância ou adolescência passa ainda por corrigir erros comuns, nomeadamente a nível alimentar.
O especialista Davide Carvalho alerta e exemplifica: “Alimentos com baixo valor alimentar (tipicamente produzidos sob a forma de merendas empacotadas necessitando pouca ou nenhuma preparação), comida de levar para casa, refrigerantes”. Os principais atores na prevenção da obesidade são, portanto, os pais, educadores e profissionais de saúde, uma vez que os “fatores ambientais desempenham um importante papel no desenvolvimento da obesidade em indivíduos geneticamente suscetíveis.” Isto implica, por exemplo, mudar de atitude e comer também um prato de sopa, em vez de reiterar os seus benefícios.
Escolhas inteligentes
Na fase inicial da vida da criança, as medidas a seguir englobam: “encorajar o aleitamento materno exclusivo (6 meses) e prolongado; desencorajar a introdução precoce de alimentos não lácteos (diversificação alimentar depois dos 6 meses) e não adicionar ao biberão cereais, mel ou açúcar”, aconselha o médico. Para além de adotar uma rotina alimentar equilibrada, composta por cinco refeições com intervalos regulares e sem nunca abdicar do pequeno-almoço, é fundamental estabelecer uma boa relação com a comida. Por outras palavras: não forçar a ingestão de alimentos, evitar petiscar entre as refeições e não usar um alimento como prémio ou recompensa.
Na infância importa promover uma dieta equilibrada, que inclua a ingestão de vegetais, frutas, legumes e cereais. A água deve ser a bebida principal e o consumo de sumos ou outras bebidas adocicadas deve limitar-se aos dias de festa. Na fase da adolescência, é importante substituir as “merendas comerciais demasiado calóricas por alimentos simples (pão com fiambre, queijo, ou compota) e fomentar o consumo diário de leite e iogurtes”, sugere.
Um problema de todos
Embora se verifique maior sensibilização para o problema da obesidade, torna-se indispensável manter a informação e usar a escola como veículo da educação das crianças para atingir os próprios pais. Há vários passos que pode seguir:
- Usar e abusar do uso da roda dos alimentos como refletindo o que deve ser o seu prato.
- Encorajar a prática desportiva, através da promoção da participação periódica dos pais.
- Ocupar os tempos livres em família com brincadeiras ao ar livre ou caminhadas para descobrir a região são exemplo da mudança de comportamento que poderá contribuir para travar este problema.
“Deve fazer parte da bagagem cultural de todos nós — pais, educadores e profissionais de saúde — uma cada vez mais forte educação nutricional aliada à implementação de estilos de vida ativos complementados pela prática regular de exercício físico”, conclui.
A obesidade infantil é um problema que afeta cada vez mais crianças e jovens em Portugal, comprometendo a saúde atual e futura. Ensinar e praticar desde cedo bons hábitos alimentares e promover uma mudança de comportamentos é o papel de pais, educadores e profissionais de saúde.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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