Psoríase — uma doença que afeta muito mais do que a pele

Saúde e Medicina
Cirurgia Plástica e Estética
Última atualização: 20/10/2022
  • A psoríase é uma doença crónica da pele que apresenta um elevado impacto negativo na qualidade de vida das pessoas, uma vez que está associada a múltiplas comorbilidades, nomeadamente, cardiovasculares, articulares e psicológicas.
  • Distinguem-se vários subtipos de psoríase, nomeadamente, psoríase crónica em placas, a mais comum, mas também a psoríase gutata, a psoríase pustulosa, a psoríase eritrodérmica e a psoríase inversa.
  • O diagnóstico é de fácil deteção, maioritariamente, e o tratamento da psoríase é limitado ao controlo da doença, já que esta não apresenta cura. É indicado o aconselhamento médico para lidar com a mesma.

É uma doença bastante comum, mas ainda pouco compreendida e a falta de informação só aumenta o sofrimento de quem dela padece. A 29 de outubro assinala-se o Dia Mundial da Psoríase e o dermatologista Tiago Torres esclarece todas as dúvidas.

Apesar de ser uma doença inflamatória da pele, a verdade é que a psoríase afeta muito mais do que apenas a derme. Isto porque, devido ao aspeto das lesões que esta patologia provoca, é frequente os doentes apresentarem problemas de autoestima, que são agravados pelos receios (infundados) de contágio que as outras pessoas costumam manifestar.

Isto tudo a somar ao próprio sofrimento que a doença acarreta, faz com que o resultado seja um fardo muito pesado. O problema assume tais proporções que, em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou uma resolução com vista a combater o preconceito e a sensibilizar para o problema, deixando claro que a psoríase é uma doença crónica, séria, incapacitante, não contagiosa e para a qual ainda não existe cura.

Segundo a OMS, a prevalência de psoríase varia entre 0,09% e 11,43% nos vários países, estimando-se que, pelo menos, 100 milhões de pessoas sejam afetadas globalmente. Em Portugal, este número situa-se em 250 mil, de acordo com Tiago Torres, dermatologista no Hospital da Luz Arrábida e presidente do Grupo Português de Psoríase da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, que sublinha as repercussões desta doença: “A psoríase associa-se a uma marcada diminuição da qualidade de vida dos doentes e dos conviventes, estando demonstrado, há vários anos, que o impacto da psoríase na qualidade de vida dos doentes é superior ao de muitas outras patologias habitualmente consideradas mais graves, como o cancro, a diabetes ou a doença cardiovascular.”Além do impacto físico e psicológico resultante da visibilidade das lesões e dos sintomas associados, o médico salienta que é também “amplamente reconhecido que a psoríase é uma doença que vai para além da pele, estando associada a múltiplas comorbilidades”, nomeadamente, cardiovasculares (diabetesobesidade, hipertensão arterial e doença cardiovascular),articulares (artrite psoriática) e psicológicas (depressão e ansiedade).  

Como se manifesta e porquê?

É muito característica a forma de a psoríase se apresentar, já que se manifesta pelo aparecimento de placas avermelhadas e ligeiramente salientes na pele, cobertas por escamas esbranquiçadas (em linguagem médica são designadas por placas eritemato-descamativas), aparecendo sobretudo nos cotovelos, joelhos, na região lombossagrada e no couro cabeludo, mas podendo afetar qualquer parte do corpo, incluindo as palmas das mãos, plantas dos pés, unhas ou genitais. É frequente os doentes relatarem comichão nas lesões.

De acordo com Tiago Torres, são vários os fatores que podem estar na origem da psoríase, sabendo-se que “resulta da interação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais”. Nas suas palavras, “estão descritos vários genes que, quando presentes, aumentam o risco de desenvolver psoríase”. Ainda assim, “a sua presença, por si só, não é determinante para o aparecimento da doença”, explica, já que “existem vários fatores ambientais, como por exemplo, as infeções bacterianas, certos medicamentos, a obesidade, o consumo de álcool, o tabagismo, o stress, entre outros, que, em doentes geneticamente predispostos, promovem o desenvolvimento de psoríase”.

Stress e ansiedade — Inimigos a evitar

Sabe-se que o stress e a ansiedade são também fatores que favorecem o desenvolvimento ou agravamento de psoríase entre as pessoas geneticamente mais predispostas a apresentar esta doença. Isto é destacado por Tiago Torres, segundo o qual “é frequente encontrarmos doentes que nos referem que a primeira manifestação de psoríase ocorreu após um evento de elevado stress ou ansiedade ou outros casos em que, mesmo sob terapêutica, registam o agravamento da psoríase após um episódio de stress”. A razão por que tal acontece “não é ainda totalmente conhecida, mas acredita-se que o stress se associe à libertação de mediadores inflamatórios que possam agravar a psoríase”, esclarece. Nesse sentido, é importante que os doentes com psoríase consigam reduzir os seus níveis de stress e ansiedade, como forma de contribuir para um melhor controlo da doença.

Vários tipos de psoríase

Clinicamente, distinguem-se vários subtipos de psoríase, nomeadamente a psoríase crónica em placas, a psoríase gutata, a psoríase pustulosa, a psoríase eritrodérmica e a psoríase inversa. A mais comum é a psoríase em placas, representando cerca de 70 a 80% dos casos, que se caracteriza pelas já referidas lesões de psoríase, localizadas essencialmente nos cotovelos, joelhos, região lombossagrada e couro cabeludo. Mas apesar desta distribuição clássica, o dermatologista refere que “as lesões podem estar localizadas nas pregas, com atingimento das axilas, virilhas, períneo, região peitoral e umbilical, denominando-se de psoríase inversa”.

Quanto à psoríase gutata, trata-se de “uma variante comum nas crianças, podendo ser a primeira manifestação da doença”, sendo que “cerca de dois terços dos doentes têm uma história de infeção do trato respiratório superior entre uma e três semanas antes do surgimento da erupção”. Neste caso, a doença caracteriza-se pelo “aparecimento de lesões arredondadas ou ovaladas, com dimensões que variam entre os dois milímetros e um centímetro de diâmetro, distribuídas de forma simétrica pelo tronco e extremidades”.

Já a psoríase pustulosa manifesta-se por vermelhidão e pústulas (bolhas com pus) espalhadas de forma generalizada, e a psoríase eritrodérmica tem como característica dominante o facto de envolver mais de 90% da superfície corporal. Estas duas formas “são menos comuns, mas habitualmente graves, necessitando geralmente de internamento hospitalar e de terapêutica sistémica”, devido ao risco de desenvolvimento de complicações.

Como se diagnostica e qual o tratamento?

Em princípio, o diagnóstico é evidente para o clínico que observa as lesões apresentadas pelo doente. No entanto, “em situações mais atípicas ou que não respondem ao tratamento instituído, pode ser necessário pôr a hipótese de outros diagnósticos”, esclarece o especialista, lembrando que, nesse caso, pode haver necessidade de confirmação histológica, isto é, de proceder a uma análise das lesões.

Embora a psoríase não tenha cura, existem vários tratamentos disponíveis com o objetivo de “diminuir a sua atividade, controlando os seus sinais e sintomas, e melhorando a qualidade de vida, permitindo uma atividade profissional, social e familiar indistinguível da população sem psoríase”.

Para os casos em que as lesões são mais localizadas, a terapêutica prescrita é de aplicação no local (aplicação tópica), havendo ainda disponível fototerapia, terapêutica oral ou injetável para as formas mais extensas.

Felizmente, os avanços da medicina têm chegado também ao tratamento desta doença, com Tiago Torres a realçar o contributo das chamadas terapêuticas biológicas, que são “extremamente eficazes, capazes de resolver por completo, ou quase, as lesões de psoríase, devolvendo assim a qualidade de vida perdida”. “Estes novos fármacos vêm aumentar o leque de opções no tratamento da psoríase, considerando-a como uma das patologias inflamatórias crónicas, de todas as áreas da medicina, com mais opções terapêuticas”, razão por que considera que “o futuro do tratamento da psoríase parece ser promissor”, mesmo que “a descoberta de uma cura esteja ainda distante”.

Três conselhos para ajudar a lidar com a psoríase

O dermatologista Tiago Torres deixa alguns conselhos para ajudar quem sofre de psoríase:

  • Preste atenção a todo o tipo de queixas relacionadas com as articulações, nomeadamente, dor ou rigidez, e procure aconselhamento médico ao mínimo sinal. Isto porque cerca de um terço dos doentes com psoríase pode desenvolver artrite psoriática, que é uma forma de doença articular e que na maioria dos casos se desenvolve após o aparecimento das lesões na pele. 
  • Saiba que, atualmente, existem vários tratamentos que permitem resolver por completo, ou quase, as lesões de psoríase, devolvendo assim a qualidade de vida perdida. Informe-se junto do seu dermatologista.
  • Adote um estilo de vida saudável, passando por uma alimentação equilibrada, prática de atividade física, perda de peso e cessação tabágica (se for o caso), uma vez que a psoríase é uma doença associada a problemas como a obesidade, hipertensão ou diabetes.

Este artigo foi útil?

Conselho cientifico

Conteúdo revisto

pelo Conselho Científico da AdvanceCare.

A presente informação não vincula a AdvanceCare a nenhum caso concreto e não dispensa a leitura dos contratos de seguros/planos de saúde nem a consulta de um médico e/ou especialista.

Downloads

Consulte os nossos guias para hábitos saudáveis:

Sympton Checker

Utilize a nossa ferramenta de diagnóstico de sintomas.

Programas AdvanceCare relacionados

Artigos relacionados