Síndrome do intestino irritável: um problema que pode crescer com o stress

Saúde e Medicina
Última atualização: 20/07/2022
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O síndrome do intestino irritável resulta da conjugação de fatores físicos e psicológicos, afetando o cólon e originando uma série de sintomas digestivos crónicos ou recorrentes. O gastrenterologista António Pinto explica porquê.

Na sua essência, a síndrome do intestino irritável é uma doença da sensibilidade. A causa da hipersensibilidade do intestino é desconhecida – é constitucional, ou seja, faz parte das características daquela pessoa – mas os fatores que a potenciam, esses, estão bem identificados. “Há motivos dietéticos – alimentos que produzem gás, ingredientes ácidos. E também comidas muito condimentadas ou o excesso de vegetais das dietas pobres em calorias e ricas em frutas e legumes, que normalmente não são bem toleradas por quem tem síndrome do cólon irritável. Mas é claro que os fatores emocionais como o stress e a depressão também estão subjacentes ao agravar dos sintomas”, explica o gastrenterologista António Pinto, que sublinha a relação direta existente entre o sistema nervoso central e o intestino.

A estes elementos juntam-se ainda os fatores endócrinos ou hormonais que levam a um agravamento dos sintomas durante o período menstrual, pois apesar de afetar ambos os sexos, a síndrome do intestino irritável é mais prevalente nas mulheres.

Intolerâncias alimentares vs. síndrome do intestino irritável

Por vezes, doentes com intolerâncias alimentares são erradamente diagnosticados como tendo síndrome do intestino irritável. Contudo, embora ambas as condições estimulem a sensibilidade do intestino, no caso da intolerância, retirado o alimento em causa, o doente tende a ficar assintomático. Na presença da síndrome do cólon irritável não há uma intolerância a determinado alimento mas, em vez disso, alimentos que podem exacerbar uma hipersensibilidade já existente.

Dor como fator eliminatório de diagnóstico

“O sintoma dominante do cólon irritável é a dor. Depois pode haver alterações do trânsito intestinal que podem manifestar-se sob a forma de diarreia ou de obstipação. Mas se não houver dor ou desconforto abdominal não estamos a falar de uma síndroma do cólon irritável mas sim de uma obstipação ou diarreia funcional”, explica António Pinto.

Normalmente é uma dor crónica, sentida nos lados laterais do abdómen, que tende a agravar-se antes da evacuação e a melhorar depois. “A dor não é necessariamente contínua, mas recidivante (que desaparece e reaparece). E aí os fatores ambientais e emocionais acabam por ter um papel”, afirma o médico.

Os doentes oscilam entre períodos de diarreia e de obstipação. “Normalmente o doente que tem obstipação tem episódios de diarreia, e aquele que tem com diarreia geralmente não tem obstipação. Mas já vi doentes mudarem de um padrão para o outro”, diz António Pinto.

Embora a mudança de temperatura não tenha influência na doença, a chegada do verão pode trazer um agravar dos sintomas. Isto resulta da alteração dos hábitos alimentares, com uma maior ingestão de saladas e uma dieta mais condimentada, da alteração do consumo de água e de eventuais mudanças de ambientes.

Controlar a ansiedade

O tratamento da síndrome do intestino irritável tem várias fases. A primeira é acalmar o doente. “Normalmente os doentes com cólon irritável têm medo de ter um cancro. Tranquilizar o doente já é meio caminho andado para ele melhorar”, garante António Pinto. Para o efeito, é atestada a ausência de sinais de alarme, como a perda de peso, a presença de sangue nas fezes, ou a diarreia noturna. “Estranhamente, as pessoas com síndrome do intestino irritável só têm diarreia durante o dia: dormem a noite toda e acordam com a barriga lisinha de manhã, têm 2 ou 3 dejeções depois, de cada vez que comem têm mais, e chegam ao fim do dia com a barriga inchadíssima”, explica o médico.

Apaziguado o doente, é escolhida a terapia. Esta pode passar pelo recurso a fármacos sintomáticos – normalmente medicamentos espasmolíticos que vão controlar a dor – ou à terapêutica psicológica que pode incluir psicoterapia ou a toma de antidepressivos.

Atualmente, os médicos estão também a recorrer a fármacos probióticos que alteram a flora intestinal e ajudam a melhorar o quadro sintomático destes doentes.

Para que a terapêutica resulte, o doente tem também alterar os seus hábitos alimentares, evitando os alimentos que potenciam a sensibilidade do intestino.

Alimentos que potenciam a sensibilidade do intestino

Segundo o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, embora a maioria das pessoas com síndrome do intestino irritável tenha diferentes gatilhos alimentares, alguns grupos de alimentos são mais propensos a causar sintomas do que outros. Entre estes encontramos:

  • Frutas: Maçãs, damascos, amoras, mangas, cerejas, nectarinas, pêssegos, ameixas, bananas maduras, melancia e peras.
  • Legumes: Alcachofras, repolho, espargos, couve-flor, alho, cogumelos, cebolas, soja, milho doce, ervilhas.
  • Leguminosas: Lentilhas, feijão e grão-de-bico.
  • Produtos lácteos: Leite, gelado, natas e queijo Cottage, a menos que sejam sem lactose.
  • Fibra insolúvel: Farelo, grãos integrais, nozes, milho e cascas de frutas e vegetais.
  • Produtos de trigo e centeio: Pão e outros produtos de panificação, bem como produtos como molhos, que contêm farinha de trigo para engrossar.
  • Adoçantes: Mel ou adoçantes artificiais, como sorbitol, maltitol ou xilitol.

Tratamento para a vida

A síndrome do intestino irritável não tem cura. É uma doença crónica que pode ser controlada. “Não mata mas mói. O tratamento será para toda a vida ou, pelo menos, recorrente – nas fases de agudização”, salienta António Pinto.

Ao contrário do que temem alguns doentes, esta síndrome não está relacionada com o cancro do intestino e não aumenta o risco de vir a sofrer de cancro.

“Um doente bem tratado pode levar uma vida normal. O grande problema que estes doentes têm é a alteração da qualidade de vida. As pessoas têm de ter muito cuidado com o que comem, ganham algumas inibições e isto funciona como um círculo vicioso: quanto mais pensam na doença, pior ficam e, ao ficarem pior, vão pensar mais na doença”, explica o gastrenterologista.

Muito associada ao stress, a síndrome do intestino irritável tem vindo a aumentar. “É uma doença muito frequente, representa 20% das minhas consultas de gastro”, concluiu o médico.

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