Síndrome do cólon irritável: um problema que vai além do intestino
- A síndrome do cólon irritável é uma doença que apesar de ser do foro gastrenterológico tem origem no sistema nervoso e na parte emocional.
- Ansiedade, stress e estados depressivos são sintomas que influenciam o organismo como um todo, levando à alteração dos hábitos intestinais e da regularidade dos mesmos.
- Existem vários tipos de síndrome do cólon irritável.
- O stress agrava os sintomas da síndrome do cólon irritável, que podem ser controlados com várias abordagens terapêuticas, atuando nas suas causas.
Estima-se que 10 a 25% da população sofra da síndrome do cólon irritável. As mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens. Conversámos com Rui Pinto, gastrenterologista, que nos explicou tudo sobre esta patologia.
Ansiedade, stress, estados depressivos. Estes são sintomas que associamos normalmente a uma vertente mais emocional mas que, na verdade, acabam por ter influência no organismo como um todo. Prova disso é a síndrome do cólon irritável, uma doença que apesar de ser do foro gastrenterológico, tem origem no sistema nervoso. Atualmente estima-se que esta desordem gastrointestinal afete 10 a 25% das pessoas em todo o mundo.
Neste caso, existe uma hipersensibilidade do intestino, que pode manifestar-se sob a forma de dor, desconforto, obstipação ou diarreia. “Falamos em síndrome porque de facto, estamos perante um conjunto de sintomas e sinais, mais até do que uma doença”, esclarece Rui Pinto, gastrenterologista. Mas aquilo que diferencia a síndrome do cólon irritável das outras doenças gástricas reside na origem. “Estes sinais e sintomas são fruto de uma ligação entre a parte emocional do indivíduo com a sua função intestinal”, explica. Assim, podemos falar aqui de uma espécie de círculo vicioso: a parte emocional tem influência na função intestinal e, por sua vez, o funcionamento intestinal alterado também vai provocar alterações ao estado emocional do indivíduo.
Emoções que causam sintomas reais
Uma das primeiras queixas dos pacientes está relacionada com a alteração dos hábitos intestinais e com a regularidade dos mesmos. “A pessoa passa a ter obstipação ou diarreia ou até mesmo uma alternância entre as duas situações. Além disso, costuma haver sinais de acumulação de ar no abdómen com distensão, acompanhada de dor”, acrescenta o especialista.
Estes são sintomas comuns a várias doenças do foro gastrenterológico, salienta o médico, mas há formas de saber quando estamos perante um doente com esta síndrome. “Quando são jovens, quando não há falta de apetite ou perda de peso, sem registo de perdas de sangue e com os exames e análises sem alterações”, enumera Rui Pinto. Nestes casos, “há um mau funcionamento do intestino, mas os órgãos estão íntegros, sem inflamação. É aí que a parte psicológica passa a ser avaliada, altura em que os médicos se apercebem que muitos dos sintomas só acontecem em fases de maior stress e que não acontecem durante o sono, altura em que o corpo e a mente estão em descanso”.
Stress agrava sintomas
Não existe um padrão, mas o gastrenterologista refere que a síndrome do cólon irritável afeta mais as mulheres. “Ou melhor, são elas que verbalizam mais”, esclarece. Independentemente do género, os pacientes que apresentam os sintomas relacionados com esta síndrome têm em comum a tendência para a depressão, ansiedade ou são mais vulneráveis ao stress. E são já muitas as pessoas que consultam os médicos da especialidade de gastrenterologia com queixas relacionadas com esta doença, facto que Rui Pinto associa a dois fatores: a maior procura por ajuda médica e o stress ao qual muitas pessoas atualmente estão expostas.
Intolerâncias alimentares não é o mesmo que ter o intestino irritável
Por vezes, doentes com intolerâncias alimentares são erradamente diagnosticados como tendo síndrome do cólon irritável. Contudo, embora ambas as condições estimulem a sensibilidade do intestino, no caso da intolerância, retirado o alimento em causa, o doente tende a ficar assintomático. Na presença da síndrome do cólon irritável não há uma intolerância a determinado alimento mas, em vez disso, alimentos que podem exacerbar uma hipersensibilidade já existente.
Atuar nas causas
Perante uma síndrome no qual corpo e mente são indissociáveis, o tratamento também tem de ser direcionado para essas duas vertentes. “O primeiro passo é dado na relação médico-paciente, com a qual se chega à descoberta da doença. É importante que o paciente perceba o que tem de fazer para cortar com esse círculo vicioso em que os sintomas aumentam a ansiedade e a ansiedade aumenta os sintomas", esclarece o especialista.
Os problemas físicos – obstipação, distensão abdominal, diarreia ou dor – são tratados com medicamentos. Já no que toca ao controlo emocional, o tratamento pode ser feito através de psicoterapia ou, no caso de ser necessária medicação, através de psicotrópicos, ansiolíticos e, por vezes, antidepressivos. É por isso comum, explica Rui Pinto, que o tratamento da síndrome do cólon irritável seja feito em equipa, num trabalho conjunto entre a gastrenterologia e a psiquiatria.
Diferentes tipos de síndrome do cólon irritável
Segundo o American College of Gastroenterology, existem diferentes tipos de síndrome do cólon irritável, que são agrupados em três principais grupos.
- Síndrome do cólon irritável em que predomina a obstipação.
- Síndrome do cólon irritável em que predomina a diarreia.
- Síndrome do cólon irritável com sintomas mistos, obstipação e diarreia.
Certifique-se de informar o seu médico sobre todos os seus sintomas para que este possa saber qual a melhor forma de o tratar.
Mensagens a reter
- Dor abdominal, inchaço, diarreia e/ou obstipação caracterizam a maior parte dos portadores da síndrome do cólon irritável.
- Trata-se de uma patologia que provoca bastante sofrimento por ser incompreendida.
- Os sintomas perturbam a vida quotidiana, a vida social e o trabalho dos pacientes.
- Muitos doentes não procuram aconselhamento médico.
- Esta síndrome tem tratamento e é possível ajudar a restaurar a qualidade de vida destes pacientes.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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