A Doença de Chagas (DC) é provocada pelo Tripanossoma Cruzi, que habita no organismo de alguns mamíferos, incluindo o do ser humano, embora desenvolva parte do seu ciclo biológico no aparelho digestivo de determinados artrópodes voadores do género Triatoma, conhecidos como “Barbeiro” (no Brasil) e “Vinchucas” na Argentina.
Encontrando-se tradicionalmente associada à vida rural e à pobreza, é uma doença endémica nos países da América Central e do Sul, estimando-se que existam cerca de 8 milhões de pessoas infetadas. Tem uma prevalência de aproximadamente 1,4%, matando 14000 pessoas por ano.
Em Portugal, a doença é pouco conhecida, estimando-se uma elevadíssima taxa de subdiagnóstico (que ronda os 99%).
Nas zonas endémicas, o inseto vetor do protozoário instala-se nas fendas das paredes e tetos de moradias precárias das zonas rurais, picando os indivíduos durante a noite e deixando fezes contaminadas sobre a zona da picada. O contágio efetua-se quando a vítima, ao coçar-se para aliviar o ardor da picada, provoca arranhões através dos quais os parasitas penetram.
Após o contágio, o início das manifestações costuma durar entre 4 a 8 semanas.
Fases da Doença de Chagas
A Doença de Chagas tem evolução crónica e debilitante, que provoca, no Homem, quadros clínicos com características e consequências muito variadas.
A doença tem clinicamente duas fases:
- Fase aguda.
- Fase crónica.
Causas da Doença de Chagas
- Picada de inseto.
- Transfusão sanguínea ou de componentes sanguíneos.
- Transmissão congénita – afeta 1% a 10% dos bebés nascidos de mães infetadas. Parto prematuro e bebés de baixo peso concorrem para a possibilidade de infeção. No recém-nascido, a infeção pode provocar anemia, edema, convulsões, hepatoesplenomegalia (aumento de volume do baço e do fígado), lesões cardíacas, oculares e do sistema nervoso central.
- Transplante de órgãos de pessoas infetadas.
Sintomas da Doença de Chagas
Após o contágio, o início das manifestações costuma durar entre 4 a 8 semanas.
A manifestação inicial é uma inflamação circunscrita no ponto de entrada do parasita:
- Chagoma de inoculação, quando se encontra na superfície da pele.
- Sinal de Romaña, quando a inoculação é feita através da conjuntiva (no olho, zona pela qual os insetos vetores demonstram uma notória preferência). Neste caso, é comum haver: edema unilateral bipalpebral, não doloroso, com adenopatia (aumento de gânglios linfáticos) pré-auricular ou cervical (zona do pescoço).
Para além disso, ao longo desta fase inicial costumam igualmente evidenciar-se manifestações gerais como:
- Febre.
- Cefaleias.
- Mal-estar.
- Perda de apetite.
- Tumefação dos gânglios linfáticos.
As manifestações iniciais costumam desaparecer de forma espontânea ao fim de um mês.
A fase crónica apresenta-se como uma forma indeterminada – assintomática ou paucissintomática (os sintomas digestivos estão ausentes). Entre 20 a 30% dos doentes, progridem para doença cardíaca ou gastrointestinal (esófago e intestino grosso), décadas após a infeção inicial.
Nas fases avançadas da doença, as lesões são irreversíveis, manifestando-se de acordo com os órgãos afetados. Pode verificar-se:
- Inflamação do músculo cardíaco, ou miocardite. A longo prazo, a afetação do coração pode provocar uma insuficiência cardíaca que pode levar à morte do indivíduo afetado.
- Dilatação anómala do esófago, ou divertículo do esófago, com a consequente dificuldade na deglutição.
- Dilatação excessiva do intestino grosso, ou megacólon, que provoca obstipação persistente.
Tratamento da Doença de Chagas
O tratamento consiste na administração de medicamentos antiparasitários específicos, (como o nitrofurazona e o nitroimidazol), que consigam eliminar o protozoário responsável, ao fim de alguns meses de administração.
Ao longo das fases avançadas da doença deve-se adotar uma série de medidas que proporcionem o alívio dos sintomas e a prevenção de complicações.
Pode-se tentar corrigir as lesões irreversíveis produzidas no esófago e cólon, através da realização de uma intervenção cirúrgica.
Prevenção da Doença de Chagas
Dado que não existe uma vacina eficaz contra a doença, a prevenção baseia-se na eliminação dos insetos vetores do protozoário responsável nas zonas endémicas,. Hhabitualmente realizam-se campanhas de desinfestação através de fumigações que, ainda assim, são insuficientes.
As árvores das zonas adjacentes às casas habitadas devem ser cortadas, de modo a manter os insetos vetores à distância. Deve-se ainda tapar as fendas das paredes e tetos, locais em que, habitualmente, os insetos se refugiam.
Artigo revisto e validado pelo especialista em Medicina Geral e Familiar José Ramos Osório.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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