A Escabiose, vulgarmente conhecida por sarna, é uma lesão cutânea que resulta de uma infeção provocada pelo parasita Sarcoptes scabiei var Hominis (o parasita é exclusivo do homem, não sobrevivendo mais de algumas horas em outros animais).
A escabiose é uma lesão cutânea muito frequente na população pediátrica estando a sua prevalência, a nível mundial, estimada em 300 000 milhões de casos por ano. Endémica em países subdesenvolvidos, é uma doença menos expressiva nos países ocidentais.
Os surtos epidémicos realizam-se ciclicamente a cada 15-30 anos e dependem de fatores diversos como a imunidade individual, condições de vida, hábitos higiénicos, migrações e aglomerados habitacionais. O risco de surtos severos e de escabiose complicada é particularmente elevado em instituições, populações carenciadas e indivíduos imunodeprimidos, sendo que, estes últimos estão sujeitos a uma forma grave de escabiose denominada escabiose crostosa ou norueguesa. A escabiose crostosa constitui uma patologia altamente contagiosa. A erupção cutânea na escabiose clássica é consequência da infestação e das reações de hipersensibilidade ao parasita. A atividade do parasita na pele produz um efeito traumático e fenómenos irritativos que originam prurido, provocando, em seguida, uma dermatite irritativa de carácter traumático, que se agrava com frequência em consequência do prurido.
Está grandemente associada a um quadro de prurido intenso, alta infecciosidade, surtos frequentes e persistência dos sintomas por vários dias, mesmo após irradicação completa da doença.
Causas da Escabiose
A infeção dá-se por contacto cutâneo, direto e prolongado com indivíduos parasitados, nomeadamente através de:
- Contacto sexual (transmissão direta).
- Contacto com roupas da cama, toalhas, etc. (contacto indireto).
- Quanto maior o número de parasitas no hospedeiro, maior é a probabilidade de transmissão.
- As crianças desempenham um papel importante na disseminação intrafamiliar por apresentarem contato físico próximo, quer em casa quer nos infantários.
- Os indivíduos assintomáticos mas infetados são tão contagiosos como aqueles que apresentam um quadro clínico completamente estabelecido.
Sintomas da Escabiose
O início dos sintomas clínicos coincide com o desenvolvimento de uma resposta imune à presença do parasita e dos seus produtos na epiderme.
Os sintomas ocorrem cerca de três a seis semanas após a infeção. Os sintomas mais expressivos são os seguintes:
- O prurido é o sintoma mais comum, apresentando um agravamento noturno – o aumento da temperatura do corpo facilita a movimentação do parasita na superfície cutânea (embora as crianças possam permanecer saudáveis e com um desenvolvimento normal, uma infestação crónica pode resultar em anorexia, irritabilidade e má evolução ponderal).
- Clinicamente podem observar-se pápulas, nódulos, vesículas e galerias (trajetos serpentinosos com 0,3 a 0,5 mm por 10 mm de comprimento). Os ovos, cerca de 10-15, dão origem, em três ou quatro dias a larvas que se dirigem para a superfície cutânea escavando pequenas bolsas superficiais que resultam da ação perfurante do ácaro e da reação cutânea resultante da ação do parasita. Nas crianças, as lesões mais frequentes são as pápulas, as vesículas, as pústulas e os nódulos.
- A maioria dos doentes apresenta escoriações, eczematização ou infeção secundária que obscurece as lesões primárias.
- No adulto, a dermatose distribui-se abaixo do pescoço com predomínio no bordo anterior das axilas, região umbilical, cintura, região glútea, face interna das coxas, face anterior dos punhos, eminência tenar (região muscular da mão, logo abaixo do polegar), espaço interdigital dos dedos das mãos e cotovelos. As mulheres apresentam lesões nas auréolas mamárias e os homens na região genital.
- Nas crianças, o envolvimento é generalizado com atingimento do couro cabeludo, face, tronco, prega pós-auricular e extremidades, incluindo palmas e plantas das mãos e dos pés.
- A exuberância das lesões varia de acordo com o tipo de pele, a sensibilidade ao parasita e com os cuidados de higiene corporal. Os nódulos vermelho-acastanhados da escabiose podem ser observados predominantemente na região axilar e inguinal, bem como nos punhos e região genital e nádegas.
- Como consequência do prurido, pode ocorrer infeção secundária por bactérias (Staphylococcus aureus e/ou Streptococcus pyogenes) ou a glomerulonefrite pós-estreptocócica em regiões tropicais.
Tratamento da Escabiose
O diagnóstico de escabiose é realizado através da análise clínica e de acordo com os sintomas como prurido de aparecimento recente com predomínio noturno, associado a uma dermatose nos locais acima descritos (generalizada, no caso das crianças). É comum que mais elementos da família se encontrem afetados.
O diagnóstico definitivo baseia-se na identificação microscópica do parasita ou de fragmentos deste. Uma vez que na escabiose clássica o número de parasitas é baixo, a não identificação do parasita não exclui o diagnóstico.
O sucesso do tratamento depende de:
- Diagnóstico correto.
- Cumprimento dos cuidados prescritos pelo médico.
- Tratamento simultâneo de todas as pessoas com contactos próximos mesmo que não manifestem prurido ou erupção cutânea – podem ser assintomáticos porque se encontram no período de incubação que pode durar quatro semanas. Mesmo neste período, esta parasitose é altamente contagiosa.
- Desinfeção dos objetos. Fora do hospedeiro o parasita pode sobreviver e é capaz de infestar de 24 a 36h à temperatura de 21º, com uma humidade relativa de 40% a 80%; temperaturas mais baixas e humidade mais elevada aumentam o seu tempo de sobrevida. A infecciosidade do parasita diminui com o tempo que este permanece fora do hospedeiro.
- Não deve ser repetido tratamento com escabicida apenas porque o doente mantém prurido, uma vez que o prurido sintomático pode persistir duas a quatro semanas após eliminação com sucesso de todos os parasitas.
- Para controlo do prurido devem ser usados anti-histamínicos não sedativos durante o dia e sedativos à noite.
- Para tratamento do eczema podem ser usados emolientes. As emulsões previnem a necessidade de corticoides tópicos.
Artigo revisto e validado pelo especialista em Medicina Geral e Familiar José Ramos Osório.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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