Criopreservação, a técnica que pode salvar vidas
- A criopreservação é um processo de armazenamento de células estaminais para posterior uso.
- Saiba mais sobre o que são estas células, o processo de criopreservação e colheita, a diferença entre bancos públicos e privados, as doenças onde as células estaminais podem ser benéficas e muito mais neste artigo.
Muito se tem falado sobre a criopreservação, mas, afinal, em que consiste esta técnica e por que parece ser tão importante? Conversámos com Ana Paula Barbosa, diretora técnica da Criovida, que nos explicou as mais-valias da criopreservação e como é que pode ajudar a salvar vidas.
1. O que é a criopreservação?
A criopreservação consiste num processo em que células ou tecidos biológicos são preservados por longos períodos de tempo a baixas temperaturas em azoto líquido a – 196ºC, ou na sua fase de vapor a –150 °C, sem que percam a viabilidade celular.
Esta técnica permite que as células estaminais isoladas a partir do sangue e do tecido do cordão umbilical, exclusivamente colhidas no dia do parto, sejam criopreservadas para posterior aplicação clínica.
2. O que são as células estaminais?
As células estaminais são células que se podem diferenciar em diversas linhagens celulares, tendo a capacidade de se auto renovarem e de se dividirem indefinidamente. A capacidade de se diferenciarem em vários tipos de células, podendo substituir células lesadas ou destruídas e regenerar tecidos danificados, explica o grande interesse na utilização das células estaminais no contexto da terapia celular e da medicina regenerativa.
3. De que forma é feita a criopreservação?
O processamento do sangue e tecido do cordão umbilical consiste numa série de procedimentos técnicos avançados que visam o isolamento das células estaminais, obtendo-se assim unidades ricas em células estaminais hematopoiéticas e mesenquimatosas, respetivamente, que serão criopreservadas de modo a assegurar a qualidade das mesmas.
4. A colheita é invasiva?
A colheita de sangue e de tecido do cordão não são invasivas. Trata-se de um procedimento indolor e sem qualquer perigo para a saúde da mãe ou do bebé.
5. Como posso ter acesso a esta técnica?
Em Portugal, a criopreservação de células estaminais está acessível aos pais, quer através do banco público quer através de bancos familiares privados.
Para iniciar o processo, os pais devem adquirir um kit de colheita de sangue e de tecido de cordão umbilical junto da empresa que escolheram para efetuar a criopreservação das células estaminais do seu bebé. A documentação inerente ao processo deverá ser devidamente preenchida e remetida para a empresa, idealmente cerca de 1 mês antes do parto. Na altura do parto, após o nascimento do bebé, os pais deverão contactar imediatamente a empresa e solicitar a recolha do kit, que será devidamente transportado para o laboratório de criopreservação.
6. Qual a diferença entre banco familiar e banco público?
É importante realçar que há espaço para a coexistência de bancos privados e públicos, já que ambos se complementam com vantagens claras de ambas as estruturas.
Os bancos públicos funcionam com base no anonimato e no altruísmo do dador (a mãe). As células são doadas e os pais perdem os direitos sobre elas. O sangue do cordão criopreservado ficará disponível para utilização por qualquer pessoa que dele necessite, desde que haja compatibilidade.
Os bancos privados guardam o sangue e o tecido do cordão umbilical para o próprio e para familiares, podendo também serem doados, se assim o pretenderem. Mas apenas mediante autorização dos pais/criança.
7. Se quiser criopreservar as células estaminais do meu filho, quando tenho de dar início ao processo?
As semanas anteriores ao nascimento do bebé são sempre de grandes preparativos, por isso, sugere-se que o processo seja iniciado, idealmente, com 2 meses de antecedência da data prevista para o parto.
8. O que acontece depois do parto?
Após o parto, a equipa médica devolve aos pais o kit de criopreservação de células estaminais devidamente selado, com as amostras devidamente acondicionadas. Após a solicitação da recolha do kit, assim que este chega ao laboratório através da empresa, os pais são devidamente notificados da sua receção. Posteriormente, é efetuada uma comunicação aos pais a informar o estado de conformidade das amostras.
9. Qual a duração média destas células?
A criopreservação de células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical tem a duração de 25 anos, podendo eventualmente ser estendida após o término desse período.
No caso de necessidade de utilização, as células estão disponíveis imediatamente após o pedido de resgate e serão colocadas no hospital onde se realizará o tratamento, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
10. As células estaminais só poderão ser utilizadas pelo bebé?
Ao criopreservar o sangue e o tecido do cordão umbilical, os pais estão ainda a potenciar a possibilidade da eventual utilização clínica por um familiar próximo. As unidades criopreservadas têm uma probabilidade de 25% de serem histocompatíveis, podendo ser utilizadas também por um familiar próximo (pais, avós, irmãos).
11. Estas células também têm limitações?
Em termos de credibilidade científica, os tratamentos com células estaminais ainda se encontram em fase de maturação, sobretudo no sentido de se conseguirem resultados comparáveis entre si, ainda que já existam provas da sua eficácia, nomeadamente no tratamento de doenças hemato-oncológicas.
Ao longo da próxima década é expectável que alguns protocolos de terapia com células estaminais (dos que atualmente se encontram em fase de ensaios clínicos) venham a tornar-se tratamentos para doenças atualmente sem resposta.
O facto de existir um potencial vasto de aplicabilidade faz com que a criopreservação seja uma das áreas mais estudadas e promissoras a nível mundial.
12. Quais as principais doenças em que a criopreservação poderá ser útil?
Em doenças em que o tratamento com células estaminais do sangue do cordão é eficaz e já está totalmente comprovado, padronizado e generalizado, nomeadamente:
- Doenças hemato-oncológicas, anomalias hereditárias dos eritrócitos e das plaquetas, anemias, doenças mieloproliferativas, doenças hereditárias do sistema imune.
- Doenças com tratamento em fase de ensaio clínico, em que o tratamento com células estaminais é benéfico, mas ainda não está padronizado e aceite para ser generalizado.
- Transplante para tumores cancerígenos, doenças hereditárias que afetam o sistema imune e outros órgãos, doenças metabólicas hereditárias, transplantes para doenças de proliferação celular, terapia génica.
- No caso do tecido do cordão umbilical, as células estaminais mesenquimatosas são utilizadas como coadjuvante em transplantes hematopoiéticos e em medicina regenerativa, nomeadamente doenças cardíacas, ósseas, musculares e degenerativas. O potencial da medicina regenerativa permite perspetivar, a curto prazo, aplicações em inúmeras patologias neoplásicas e degenerativas.
13. Quais as vantagens da criopreservação?
A criopreservação apresenta várias vantagens:
- As células ficam disponíveis imediatamente em caso de necessidade de utilização.
- O sangue do cordão é colhido após o parto, sendo um método indolor e não invasivo.
- Atualmente, são mais de 80 as doenças cujo tratamento é feito com células estaminais do sangue do cordão umbilical.
- As células estaminais poderão ser utilizadas em tratamentos para o próprio ou para familiares diretos ou, no caso dos bancos públicos, poderão ser utilizadas noutras pessoas que delas necessitem, sendo que é preciso que exista compatibilidade.
- Estas células têm mostrado menor exigência em termos de compatibilidade bem como uma menor incidência de rejeição do transplante, permitindo a utilização a um número mais elevado de pessoas e também um maior sucesso no tratamento.
- O sucesso no transplante alogénico com sangue do cordão umbilical é de 85%, comparativamente mais alto que o transplante alogénico com medula óssea, que se situa entre os 35% e os 55%, dependendo da patologia.
14. Em que casos não pode ser feita a criopreservação?
Por vezes, o processamento para a criopreservação não pode ser realizado ou a criopreservação não pode ser feita com
sucesso. Estas situações ocorrem quando não é colhido um volume suficiente de sangue do cordão, devido a
determinadas contaminações microbiológicas ou a um número insuficiente de células estaminais.
A
criopreservação, acessível aos pais através do banco público ou de bancos familiares privados, permite que as
células estaminais isoladas a partir do sangue e do tecido do cordão umbilical, no dia do parto, sejam
criopreservadas para posterior aplicação clínica no tratamento de diversas doenças graves, sendo, por isso, uma
mais-valia para o futuro. Informe-se sobre este processo e faça uma decisão informada.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
Downloads
Consulte os nossos guias para hábitos saudáveis: