Criopreservação, sim ou não?
- As células estaminais têm a capacidade de se dividirem e diferenciarem em qualquer tipo célula do corpo humano.
- As células são coletadas depois do parto e preservadas a temperaturas muito baixas durante cerca de 25 anos.
- A importância do uso destas células passa pelo possível tratamento de 80 doenças graves, até agora.
- Em Portugal, já ocorreram cerca de 80 transplantes com sangue do cordão umbilical em 17 anos.
- O processo de colheita é feito com o kit de colheita, no hospital, pela equipa médica que assiste ao parto.
- A criopreservação é uma ação que pode trazer benefícios ao longo da vida da criança ou de um familiar.
É uma dúvida que surge a muitos casais que se preparam para ser pais: vale a pena avançar com a criopreservação de células estaminais do bebé que vai nascer? A resposta poderá estar nos casos de sucesso já conhecidos.
Preservar as células estaminais de um bebé recém-nascido é uma decisão que os pais podem tomar livremente e de forma informada, embora implique disponibilidade económica para suportar tal desejo. Mas é também imprescindível que os pais estejam inteiramente informados sobre o desenvolvimento do processo de criopreservação e as suas potencialidades.
O que são células estaminais?
As células estaminais são células com capacidade para proliferarem e se diferenciarem em diferentes tipos de populações de células do nosso corpo – sendo assim chamadas de células totipotentes. Conseguem dividir-se indeterminadamente, autorrenovarem-se a si próprias e diferenciarem-se em células com diferentes funções e características. Estas células podem ser utilizadas no tratamento de várias doenças.
Durante o desenvolvimento embrionário, as células estaminais especializam-se originando os vários tipos de células do corpo (células do músculo cardíaco, neurónios, glóbulos vermelhos ou células da pele). Nos adultos, estas células são capazes de reparar de tecidos danificados e substituem as células que vão morrendo. A sua colheita é feita depois do nascimento do bebé, do corte do cordão umbilical e da expulsão da placenta, sendo um processo seguro e sem risco para a mãe e para o bebé, explica o departamento do Sangue e Transplante do National Health Service do Reino Unido. A sua criopreservação deve ser realizada dentro das próximas 72 horas. Preservar estas células vai torná-las disponíveis para utilização posterior em caso de necessidade, quer para uso próprio ou familiar.
Como são preservadas estas células?
As células são preservadas a temperaturas muito baixas (-196ºC) durante um longo período de tempo (habitualmente 25 anos). “Uma vez criopreservadas, as células podem ser utilizadas em qualquer momento e em qualquer parte do mundo”, afirma Alexandra Machado, diretora clínica da Crioestaminal.
Potencialidades da criopreservação
“As células estaminais constituem um recurso terapêutico que atualmente já foi utilizado no tratamento de cerca de 80 doenças muito graves, estimando-se que no futuro este número venha a aumentar”, acrescenta a responsável, justificando esta escolha por parte dos pais que têm capacidade para financiar o processo. As doenças em que estas células podem ser usadas como tratamento incluem doenças do sangue (como leucemias, alguns tipos de anemias ou situações de hemoglobinopatia), do sistema imunitário, doenças metabólicas e ainda algumas doenças oncológicas. Alexandra Machado lembra ainda que as células estaminais do cordão umbilical não servem apenas para potencial tratamento do bebé de onde foram recolhidas. Podem também ser utilizadas em familiares compatíveis.
Na verdade, estudos científicos demonstram que os transplantes entre pessoas da mesma família têm mais sucesso do que entre pessoas não relacionadas. “E a probabilidade de compatibilidade total entre irmãos é de 25%”, sublinha Alexandra Machado. Em certos casos, a utilização das próprias células do doente não é indicada, pois podem ser a origem da doença.
Quais os resultados desta técnica em Portugal?
Em Portugal, há já registo de casos de sucesso de utilização alogénica (transplante com células estaminais de um dador familiar) no tratamento de imunodeficiências combinadas severas entre irmãos, com recuperação total do doente. Mas há também finais felizes em casos de utilização autóloga (transplante com células estaminais do próprio) em crianças com paralisia cerebral. Ocorreram cerca de 80 transplantes com sangue do cordão umbilical em Portugal entre 2002 e 2019.
A lista de histórias de sucesso estende-se a muitos outros países. Há vários casos de tecidos humanos criados a partir de células estaminais que ajudaram a salvar vidas.
Como fazer?
Idealmente, o processo de adesão a soluções de criopreservação deve ocorrer até dois meses antes do parto. Os pais devem adquirir um kit de colheita de sangue e de tecido de cordão umbilical junto da empresa que escolheram para efetuar a criopreservação das células estaminais do seu bebé. Os questionários de avaliação clínica e o respetivo contrato de criopreservação devem, então, ser preenchidos e remetidos para a empresa, idealmente cerca de 1 mês antes da data prevista para o parto. Os pais ficarão ainda com o contacto da empresa, contacto este que deverão acionar imediatamente a seguir ao parto, já que a equipa médica que assiste ao parto ficará responsável pela colheita do sangue e do tecido do cordão umbilical no momento do nascimento. Nessa altura, a empresa de criopreservação enviará uma transportadora à maternidade para recolher o kit e os pais dão por finalizada a sua intervenção no processo.
Benefícios da criopreservação:
- Maior hipótese de compatibilidade entre o dador e o doente.
- Apresenta um risco menor de doença do enxerto contra hospedeiro (Graft-vs-host disease), complicação que pode ocorrer quando um paciente recebe um transplante de células de um dador (transplante alogénico).
- Permite a disponibilização imediata de células para transplantação.
- É um método fácil e indolor de recolha de células estaminais, dado que o sangue é recolhido do cordão umbilical após o parto.
O papel de pais implica várias preocupações e a saúde dos filhos é uma das principais e que se vai manter ao longo de toda a vida. A criopreservação permite a recolha de células estaminais durante o parto, que poderão ser utilizadas anos mais tarde, se a criança ou um familiar tiverem algum problema de saúde grave. Informe-se sobre este método e a sua importância e tome a sua decisão.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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