Placebo: o poder do pensamento positivo?
- O placebo é uma substância administrada ao paciente sem efeito farmacológico.
- O placebo é um aliado importante na investigação científica, pois serve como efeito comparativo para avaliar a eficácia do fármaco em desenvolvimento.
- Além da investigação científica, o placebo também é utilizado na investigação sobre a relação entre o psicológico e o físico.
- O placebo também pode ter efeitos terapêuticos. Não cura, mas faz o doente sentir-se melhor. Pode interferir nos sintomas modulados pelo cérebro, como a perceção da dor e de outros efeitos secundários.
Há quem lhe chame “medicamento falso”, mas, na verdade, nem chega a ser um medicamento: o placebo é uma substância sem efeitos farmacológicos que é usada essencialmente em ensaios clínicos. Mas está a transpor a porta dos laboratórios para a prática da medicina, na medida em que tem revelado um efeito positivo no alívio de sintomas como dores de cabeça, insónias ou ansiedade.
Para melhor compreender o que é um placebo, remontemos à raiz etimológica da palavra: é latina e corresponde ao futuro do indicativo do verbo Placere, que significa “agradar”. À letra, placebo corresponde a “agradarei”. E foi precisamente nesse sentido que o termo começou a ser usado em Medicina: era assim que se designava uma substância que o médico prescrevia para “agradar ao doente”, sem que tivesse benefício terapêutico. Desta origem remota para a atualidade, a verdade é que a função do placebo pouco mudou, no sentido em que continua a ser uma substância ministrada a doentes, mas sem efeito farmacológico. Porque, ao contrário de um medicamento, o placebo não possui substância ativa, isto é, o elemento químico cuja ação se destina à cura dos sintomas de uma doença.
Aliado da investigação clínica
Isto não significa, porém, que o placebo não tenha um papel importante em Medicina. Na verdade, desempenha um papel essencial na investigação clínica com vista ao desenvolvimento de novos medicamentos e terapêuticas. A dada altura do processo de investigação, é necessário recorrer a ensaios clínicos em seres humanos para avaliar a eficácia do fármaco em desenvolvimento. E, para chegar a uma conclusão, é necessário que haja dados comparativos: assim, os participantes no estudo são divididos em dois grupos, um dos quais recebe o medicamento em desenvolvimento e o outro um placebo. Este é um comprimido em tudo idêntico ao que possui a substância ativa em estudo, mas feito de açúcar, por exemplo, sendo que nenhuma das pessoas sabe o que vai tomar. Os investigadores podem, assim, avaliar se o fármaco funciona comparando as reações dos dois grupos.
O pensamento positivo funciona?
Mas não é só no desenvolvimento de novos fármacos que o placebo é utilizado. É também utilizado na investigação sobre a relação entre o psicológico e o físico. Segundo o Professor Ted Kaptchuk de Harvard Medical School, "O efeito placebo é mais do que um pensamento positivo: é acreditar que um tratamento ou procedimento vai funcionar. Trata-se de criar uma ligação mais forte entre o cérebro e o corpo e como trabalham em conjunto". A questão subjacente é: até que ponto as perceções individuais têm impacto fisiológico? O que tem vindo a ser provado é que há uma relação de causa-efeito e que, por exemplo, uma injeção produz mais efeito do que um comprimido e que dois comprimidos provocam uma reação mais acentuada do que um. E quanto maior o comprimido melhor. Até a cor parece influenciar: o vermelho, amarelo e laranja estão associados a um efeito estimulante, enquanto o verde e o azul estão relacionados com um efeito tranquilizador.
O que se tem verificado é que há, de facto, uma relação entre as expetativas e os resultados: se a uma pessoa for dado um placebo e lhe for dito que se trata de um estimulante, é provável que o ritmo cardíaco acelere e que a pressão arterial aumente; se, pelo contrário, lhe for dito que se trata de um relaxante, é provável que os efeitos sejam o oposto. O mesmo parece ser válido para os efeitos secundários: se for dito, a quem recebe um placebo, que poderá causar náuseas, como efeito secundário, é de esperar que elas aconteçam.
Verdadeiro papel terapêutico?
Estes efeitos vêm mostrar que a mente pode ser uma poderosa ferramenta terapêutica, na medida em que é capaz de dar ordens ao corpo e convencê-lo, estimulando a recuperação. Ou seja, em determinadas circunstâncias, o placebo pode mesmo ter efeitos terapêuticos.
O investigador Ted Kaptchuck, da Harvard Medical School, tem-se dedicado precisamente a este estudo. E a sua investigação tem mostrado que, sendo certo que o placebo não consegue encolher um tumor, pode interferir nos sintomas modulados pelo cérebro, como a perceção da dor. E, assim, o placebo não cura, mas faz o doente sentir-se melhor, tendo-se revelado eficaz na gestão da dor, da insónia e de efeitos secundários do tratamento oncológico como a fadiga e as náuseas.
Ainda não se sabe exatamente como o placebo funciona, mas sabe-se que envolve uma reação neurobiológica complexa, que envolve os chamados neurotransmissores da felicidade e do bem-estar como as endorfinas e a dopamina. Daí que o professor Kaptchuck defina o efeito placebo como o modo como o cérebro diz ao corpo que precisa de se sentir melhor.
Há muito que se acredita que o pensamento positivo pode influenciar o tratamento. E a ciência caminha no sentido de comprovar esta convicção.
Sabia que?
- O efeito placebo é psicológico e físico.
- A natureza do tratamento placebo importa.
- Até os animais podem experimentar um efeito placebo.
- Há um efeito placebo mesmo quando os doentes sabem que estão a obter um placebo.
- Existe um efeito nocebo, ou seja, quando há um efeito negativo pela toma de um medicamento, mesmo que esse medicamento não seja real.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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