Saúde além da Covid-19: Sinais e sintomas a que é preciso estar atento
- Com o aparecimento da pandemia provocada pela COVID-19, muitas consultas e exames doentes foram cancelados;
- Este cancelamento e adiamento, leva a que possam existir consequências a longo prazo, tais como uma população mais adoentada e uma redução da qualidade de vida;
- Importante relembrar que existem mais problemas de saúde para além da COVID-19, logo um acompanhamento regular é essencial, principalmente para doentes crónicos ou adultos que não fazem consulta de rotina há mais de 1 ano;
- A pandemia trouxe um aumento generalizado da ansiedade, juntando o isolamento social com uma instabilidade emocional;
- Apesar do surgimento desta pandemia, há que continuar a viver dentro de uma normalidade possível, procurando os cuidados de saúde.
É importante que se continue a ir ao médico sempre que necessário apesar da pandemia de COVID-19.
O cancelamento de consultas e exames foi uma das consequências da pandemia, mas o regresso à normalidade possível é importante. A médica Patrícia Maia realça a necessidade de se prestar atenção a alguns sintomas e procurar o médico sempre que se justifique.
Ainda que as consultas telefónicas ou por videochamada tenham sido adotadas em muitos serviços de saúde para evitar deslocações a hospitais, clínicas e centros de saúde, a verdade é que muitos foram os portugueses que deixaram de ir ao médico desde que a pandemia começou a ganhar relevo. Por exemplo, em maio de 2020, a Entidade Reguladora da Saúde observou quedas de 31% no número de consultas médicas hospitalares, 57 % no de cirurgias planeadas e de 15% no de cirurgias urgentes, quando comparados com o mesmo período do ano anterior.
Cenário idêntico verificou-se um pouco por todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde estudou este fenómeno da interrupção da prestação de cuidados em 95 países ao longo da pandemia. Durante o período entre novembro-dezembro de 2021, sofreram disrupção de serviço:
- 53% dos cuidados de saúde primários, 8% dos quais num valor superior a 50%;
- 38% dos cuidados de emergência, críticos e operativos;
- 48% de cuidados de reabilitação e paliativos;
- 58% das consultas com especialistas.
No entanto um regresso à normalidade possível
continua a importar. Segundo a especialista Patrícia Maia, “a população tem de continuar a ser muito sensibilizada
sobre o quão fundamental é manter a sua vigilância médica habitual, mesmo em época de COVID-19”.
Para
tal, é também relevante compreender e desmistificar o medo que muitas pessoas passaram a sentir e que as está a
impedir de procurar os cuidados de saúde de que necessitam: “O tomar consciência da dimensão desta pandemia e todas
as restrições que foram sendo impostas, obviamente consciencializaram – ou deviam ter consciencializado – a
população para as medidas de proteção a tomar, mas também criaram o medo e hoje sentimos que
o medo impede parte da população de retomar a sua vigilância médica.”
Consequências dos adiamentos
De acordo com Patrícia Maia, muitas são as eventuais consequências dos cancelamentos e adiamentos de consultas e
exames: “O constante adiar, seja por medo ou por dificuldade de acesso, garantidamente vai descontrolar doenças
crónicas e dificultar diagnósticos precoces.” Concretamente, a médica prevê que “vamos ter uma população cada vez
mais doente e um consequente aumento da mortalidade não COVID-19”, ao mesmo tempo, acredita que “tenhamos mais perda
de qualidade de vida e custos com a saúde acrescidos, com tratamentos mais prolongados, cirurgias mais complicadas e
sequelas de doenças não controladas”. Como exemplo desta última situação, aponta “o AVC em pessoas com hipertensão não
controlada, cancros diagnosticados em fases tardias e com menor probabilidade quer de sobrevida quer de qualidade de
vida”.
Segundo a especialista, a situação é mais complexa do que parece, pois “não são só as consultas
que estão a ser evitadas, mas também as urgências e quando os doentes recorrem a um serviço de urgência apresentam
já quadros mais críticos, quer de doença aguda ou de doença crónica descompensada”.
Importante: cuide da sua saúde
Perante o contexto pelo qual passamos, que motiva grande preocupação, Patrícia Maia não hesita em sublinhar a
importância de cada um zelar pela sua saúde, “mesmo em época de COVID-19”, até porque os problemas de saúde não se
limitam aos provocados por este coronavírus. A especialista defende que “quem tem uma doença crónica e não é vigiado
há mais de seis meses tem obrigatoriamente de regressar aos serviços de saúde, tem de ser proativo na sua saúde, sob
pena de tardarmos com tratamentos e o tempo ser irreversível”.
Também no caso de “adultos aparentemente
saudáveis, mas que não fazem nenhuma revisão há mais de um ano, estes devem ser incentivados a fazê-la, para seu
próprio benefício e bem-estar”. Já no que diz respeito às crianças, a especialista confia que o problema possa não
ser tão grave, tendo em conta que os intervalos de vigilância nestas faixas etárias são mais apertados, “havendo
sempre uma preocupação acrescida por parte dos pais”.
Não esquecer a saúde mental
Outra dimensão destacada por Patrícia Maia prende-se com a saúde mental da população, depois de um momento tão específico da nossa existência e em que tantas variáveis estiveram em constante mudança, muitas das quais contribuindo para um aumento generalizado da ansiedade. Nas suas palavras, merece atenção “o facto de vivermos uma época de grande instabilidade e de incógnita, que vai continuar a prolongar-se temporalmente criando grande instabilidade emocional”. Em concreto, a médica explica que “o isolamento social, a falta de afetos físicos, a falta de contacto humano, a falta de convívio com amigos e familiares, a ausência de partilha, o medo de ficar doente ou de ser transmissor de doença e os projetos de vida adiados originam problemas emocionais e psicológicos incalculáveis, traduzidos por tristeza, depressão, ansiedade, perturbações do sono, perturbações da nossa relação com a comida, nomeadamente através de excessos alimentares”. O risco que se correu após “todas estas perturbações emocionais e psicológicas tendem a agravar doenças já existentes, bem como a fazer surgir novas doenças, como obesidade, hipertensão, diabetes, dependências medicamentosas, entre outras”.
Confiar e procurar cuidados
A necessidade de se continuar a zelar pela saúde de todos – sem focar apenas na infeção de COVID-19 – é, pois, uma
prioridade, com Patrícia Maia a sublinhar que “temos de prosseguir o nosso caminho com todas as precauções
acrescidas, na certeza de que os prestadores de saúde querem uma população mais saudável e têm oferecido condições
de segurança para que se retome a atividade clínica minimizando os riscos, não só para os doentes, mas também para
todos os profissionais que mantêm o sistema a funcionar”.
A médica observa que “ainda há muito receio
na procura dos cuidados de saúde”. Referindo-se à sua prática clínica diária, salienta que “a procura está a tender
para níveis pré-pandemia, mas notando-se um misto de doentes habituais com novos doentes, estes pela dificuldade de
chegarem ao contacto com o seu médico habitual”. No local onde trabalha, não só foram mantidas as consultas
presenciais, como também telefónicas e videoconsultas, o que se justifica com o facto de ser importante “garantir a
acessibilidade e perceber as necessidades de quem procura”.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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