Saúde oral e problemas de coração. Existe relação?

Diversos estudos sugerem que a saúde oral e o coração podem estar intimamente ligados, tendo permitido concluir que pessoas com problemas de saúde oral – como inflamação das gengivas e problemas nos dentes – têm mais frequentemente problemas cardiovasculares, tais como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais (AVC), em comparação com aqueles que mantêm uma boa saúde oral.

Mas afinal qual é a relação?

Vários estudos apontam para a existência de uma ligação entre a inflamação associada a doenças gengivais e dentárias, causada pela presença de bactérias, e o posterior desenvolvimento de problemas cardíacos. Porém, a relação entre estes vários aspetos ainda não é clara, existindo algumas hipóteses propostas, entre elas:

• As bactérias que estão na origem da inflamação das gengivas - causando gengivite e, em estados mais avançados, periodontite - circulam através da corrente sanguínea, causando inflamação e danos nos vasos sanguíneos. A isto pode seguir-se a formação de pequenos coágulos sanguíneos, dando origem a ataques cardíacos ou AVC.
• Em alternativa, pondera-se ainda o efeito da resposta imunitária que, mediante uma inflamação prolongada, desencadeia uma sequência de danos vasculares que afetam o coração.

No entanto, é preciso ressalvar que uma relação entre os diversos problemas de saúde e a higiene oral não representa necessariamente uma relação de causa-efeito e serão necessários mais estudos que permitam compreender um pouco melhor esta conexão.

Uma boa saúde oral faz toda a diferença

A nossa boca alberga inúmeros micro-organismos, como fungos e bactérias. Se, por um lado, alguns são até necessários à nossa saúde, outros podem causar inflamação das gengivas e danificar os dentes, devendo por isso ser removidos diariamente.

Um estudo de 2018 analisou a relação entre o hábito de escovar os dentes duas vezes por dia e potenciais problemas cardíacos, tendo concluído que existe um risco acrescido para quem não o faz de desenvolver problemas desta natureza.

A ligação entre uma higiene oral deficiente e saúde em geral pode não estar limitada às doenças cardiovasculares. Outros estudos parecem também indicar que existe uma relação entre os problemas de saúde oral – em particular problemas nas gengivas, como a gengivite e a doença periodontal – e outros problemas como a hipertensão, a artrite ou até inflamação das válvulas cardíacas.

Como cuidar da saúde oral?

O mais recente Barómetro de Saúde Oral, que reúne os principais indicadores dos hábitos da população portuguesa para o ano de 2022, diz-nos que cerca de um terço dos portugueses ainda não escova os dentes duas vezes ao dia, com um número ainda mais reduzido a utilizar o fio dental e o elixir, que se fixa em aproximadamente 10%. Relativamente aos hábitos de visita ao médico dentista, apenas 67% dos portugueses o fazem pelo menos uma vez por ano.

Apesar dos avanços e recuos sentidos nos últimos anos, existe ainda muito a fazer neste campo em Portugal. O cuidado com a saúde oral deve ser instigado desde a infância, com a implementação de hábitos regulares e visitas frequentes ao médico dentista.

A manutenção da saúde oral é essencial para o bem-estar, pelo que lhe deixamos conselhos simples para que possa ter dentes e gengivas saudáveis.

1. Escove os dentes com frequência. Recomenda-se que o faça duas vezes por dia, cuidadosamente e durante cerca de 2 minutos. Deve ainda evitar comer a seguir à escovagem.
2. Troque de escova com frequência. Deve fazer esta troca a cada três meses ou sempre que a escova estiver danificada.
3. Realize consultas periódicas. Deve visitar o seu médico dentista pelo menos uma vez por ano, mesmo sem queixas ou preocupações, para realização de check-up ou limpeza, evitando potenciais problemas.
4. Evite fumar. Os químicos presentes no fumo do tabaco são prejudiciais à saúde como um todo, mas os dentes e a cavidade oral são particularmente afetados.
5. Mantenha uma alimentação saudável. Os nutrientes presentes nos alimentos são essenciais à manutenção de uma boa saúde dos dentes. Da mesma forma, o consumo excessivo de açúcar pode ser prejudicial e deve ser limitado. O mesmo aplica-se ao consumo de álcool.
6. Se está grávida ou tem diabetes tenha cuidados especiais. Estas condições de saúde podem prejudicar a saúde dos dentes e, por isso, deve ter cuidados especiais.

Ao que deve estar atento?

Em acréscimo às consultas periódicas que deve realizar junto do seu médico dentista, é importante estar consciente das alterações sentidas no seu organismo. Afinal, conhece o seu corpo melhor que ninguém! Existem, assim, alguns sinais a que deve estar atento e que devem motivá-lo a procurar apoio especializado.

Destacamos alguns sintomas que lhe permitem identificar problemas de gengivas em fase precoce e assim potenciar o seu tratamento:

• Sangramento da gengiva quando come, escova os dentes ou utiliza o fio dental.
• Pus ou outros sinais de infeção nas gengivas e nos dentes.
• Espaçamento entre as gengivas e os dentes.
• Mau hálito frequente ou sabor desagradável na boca.
• Dentes com mobilidade e com espaços entre si.

É fácil descurarmos uma dor ou desconforto nos dentes e gengivas, atribuindo-os a algo passageiro. Porém, sensação de dor, maior sensibilidade dentária, inchaço ou abcessos, ou ainda alterações na língua não devem ser ignorados e deve procurar aconselhar-se junto do seu médico.

Não esquecer!

Como referido, a ligação entre a saúde oral e os problemas de coração não é ainda inteiramente compreendida, porém não existe como negar a importância de hábitos de saúde oral para o bem-estar geral. Permite, por um lado, cuidar dos dentes e gengivas e evitar potenciais desconfortos e problemas de saúde, mas também tem uma finalidade estética, importante para o bem-estar e felicidade individuais. Isso, por si só, é motivo para que faça da sua saúde oral uma prioridade.