O pâncreas é uma glândula, com cerca de 15 cm de comprimento, pertencente aos sistemas digestivo e endócrino e que se localiza atrás do estômago, entre o duodeno e o baço.
Esta glândula é composta por três regiões principais:
- Cabeça– a parte que contacta com o duodeno.
- Corpo – a parte central.
- Cauda– a parte final que contacta com o baço.
Após estabelecido o diagnóstico é necessário proceder ao estadiamento da doença, de forma a traçar um plano de tratamento.
O pâncreas é composto por células endócrinas e células exócrinas. Enquanto as células endócrinas produzem hormonas, as exócrinas produzem enzimas. No seu estado normal, estas células crescem e dividem-se em novas células, que vão sendo formadas à medida que vão sendo necessárias (processo chamado de regeneração celular). Quando as células perdem este mecanismo de controlo, sofrem transformações no seu genoma (DNA) e tornam-se células de cancro (que não morrem quando envelhecem ou se danificam, e produzem, novas células de forma descontrolada, daí resultando na formação de um cancro).
Ao contrário das células normais, as células cancerígenas não respeitam as fronteiras do órgão e invadem outros órgãos, podendo originar metástases.
O cancro do pâncreas é a terceira neoplasia mais frequente do tubo digestivo em Portugal e a segunda no mundo ocidental, após o cancro do cólon (é a quinta causa de morte por cancro).
A maior parte dos casos ocorre entre os 35 e os 70 anos, com o pico da incidência no grupo etário entre os 55 e 74 anos.
Causas do Cancro do Pâncreas
Apesar de não terem sido encontradas causas para o cancro do pâncreas, sabe-se que a patologia se encontra associada a alguns fatores de risco, tais como:
- Tabagismo– O fator de risco mais importante. Os fumadores têm maior risco de desenvolver cancro do pâncreas que os não fumadores, principalmente os fumadores com grande carga tabágica;
- Antecedentes familiares – O risco de desenvolver cancro do pâncreas é superior caso existam familiares diretos (pais, irmãos) que tenham ou tiveram a doença;
- Diabetes – As pessoas diabéticas têm risco aumentado de vir a ter cancro do pâncreas;
- Pancreatite– A pancreatite é uma inflamação do pâncreas que provoca dor. A pancreatite crónica pode aumentar o risco de cancro do pâncreas;
- Obesidade– Os indivíduos obesos têm um risco ligeiramente superior de desenvolver cancro do pâncreas;
- Alcoolismo– Os indivíduos com elevado consumo de álcool têm risco aumentado de vir a ter cancro do pâncreas.
Sintomas do Cancro do Pâncreas
O adenocarcinoma do pâncreas não provoca, normalmente, sintomas. Quando os sintomas aparecem significa que o tumor já cresceu, pelo que em 80% dos casos, no momento do diagnóstico o tumor já está num estadio avançado com metástases.
Os primeiros sinais e sintomas são:
- Dor, 90% dos doentes sentem dor abdominal. Geralmente dor intensa na parte alta do abdómen, que irradia para as costas e que não melhora com a mudança de posição.
- Perda de pelo menos 10% do peso.
- Icterícia, provocada pela obstrução do canal biliar (cerca de 80% destes tumores desenvolvem-se na cabeça do pâncreas, a parte mais próxima do duodeno e do canal biliar comum). A icterícia é um sintoma precoce típico provocado pela obstrução do canal biliar comum, também conhecido por colédoco.
- Os tumores do corpo e da cauda do pâncreas (a parte do meio e a mais distante do duodeno) podem obstruir a veia que sai do baço, provocando tumefação do baço e varizes à volta do estômago e do esófago.
- Urina de cor escura e/ou fezes de cor clara.
- Náuseas e vómitos.
- Anorexia.
- Fadiga.
- Perda de apetite e sensação rápida de saciedade.
Diagnóstico do Cancro do Pâncreas
Para além do exame clínico, prescrevem-se exames complementares de diagnóstico, tais como: tomografia axial computorizada, ressonância magnética, ecografia ou endoscopia, e ecoendoscopia.
Podem ainda ser pedidos exames como:
- Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE) – as imagens da CPRE permitem ao médico detetar obstruções dos ductos por algum tumor ou outra condição específica do doente.
- Biopsia aspirativa percutânea – consiste na colheita de tecido pancreático para análise em laboratório.
- Laparoscopia exploradora – cirurgia minimamente invasiva, que permite visualizar os órgãos internos e avaliar a presença de doença.
Estadiamento do Cancro do Pâncreas
Após estabelecido o diagnóstico (que necessita sempre de confirmação por parte da análise efetuada pela Anatomia Patológica), é necessário proceder ao estadiamento da doença, de forma a traçar um plano de tratamento.
O cancro do pâncreas pode ser classificado da seguinte forma:
- Tx – tumor primário, sem estadiamento classificado.
- T0 – Sem evidência de cancro.
- Tis – Cancro in situ.
- T1 – Cancro limitado ao pâncreas, com dimensão inferior a 2 cm.
- T2 – Cancro limitado ao pâncreas, com dimensão superior a 2 cm.
- T3 – Cancro afeta outros órgãos ou tecidos para além do pâncreas, mas sem envolver os vasos, nomeadamente a artéria mesentérica superior ou a veia porta.
- T4 – O cancro envolve os vasos, e neste caso não é operável.
O estadiamento da doença traduz-se na combinação do tipo de tumor primário, com a presença de doença nos gânglios linfáticos e/ou metástases.
Estadio 0 – cancro do pâncreas in situ.
Estadio I – cancro encontra-se apenas no pâncreas.
Estadio II – O cancro invadiu tecidos circundantes e possivelmente gânglios linfáticos. O cancro ainda não atingiu a corrente sanguínea. (Apenas em 14% do casos o estadio é I ou II).
Estadio III – cancro atingiu vasos sanguíneos próximos (21% dos casos).
Estadio IV – O cancro espalhou-se para órgãos à distância, como é o caso do fígado e pulmões (cerca de 65% dos casos apresentam-se sobre a forma de estadio IV).
Tratamento de Cancro do Pâncreas
Estadios 0, I e II – A opção terapêutica é normalmente a cirurgia, através da remoção parcial ou total do pâncreas, duodeno, vesícula e parte do estômago.
Se o cancro estiver localizado na cauda do pâncreas realiza-se uma Pancreatectomia Distal – podem ser removidos o baço e gânglios linfáticos próximos. O uso de radioterapia e quimioterapia é avaliado caso a caso, antes ou depois da cirurgia.
Estadio III – O tratamento utilizado é a quimioterapia. A radioterapia é geralmente utilizada, desde que o doente se encontre autónomo e com poucos sintomas.
Estadio IV – O tratamento utilizado é a quimioterapia (a radioterapia nesta fase não é utilizada).
Artigo revisto e validado pelo especialista em Medicina Geral e Familiar José Ramos Osório.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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