Diabetes e alimentação: os segredos
- A reeducação alimentar é um dos pilares da prevenção e da terapêutica da diabetes.
- Uma alimentação adequada para diabéticos consiste na ingestão de uma variedade de vários alimentos nutritivos, em quantidades moderadas e a horários regulares de refeição.
- A disciplina, a substituição de determinados alimentos e a moderação são elementos essenciais, permitindo à pessoa com diabetes não abdicar, por exemplo, de ir a um restaurante, ingerir hidratos de carbono, ou mesmo deliciar-se com uma sobremesa.
Ao contrário do que é comum pensar-se, não existem alimentos proibidos para quem tem diabetes. Disciplina e moderação permitem atingir o equilíbrio desejado na dieta de um diabético.
A diabetes é uma doença metabólica crónica, muitas vezes silenciosa, caracterizada pelo aumento da glicose (açúcar) no sangue e atinge tanto o sexo feminino como o masculino, podendo surgir em qualquer idade.
Existem três tipos de diabetes: tipo 1 (quando não há produção de insulina ou esta é muito baixa), tipo 2 (quando o organismo é resistente à ação da insulina) e gestacional (ocorre durante a gravidez e normalmente é temporária). A doença cardiovascular é a principal causa de morte nos diabéticos e a diabetes e a hipertensão constituem fatores de risco independentes para o desenvolvimento de patologia cardiovascular.
Os números
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 422 milhões de pessoas em todo o mundo têm diabetes e 1,5 milhão de mortes por ano são atribuíveis diretamente à diabetes. A OMS alerta ainda que tanto o número de casos quanto a prevalência desta patologia têm aumentado constantemente nas últimas décadas.
Portugal encontra-se entre os países europeus com maior prevalência da diabetes. Segundo os dados mais recentes do Observatório Nacional da Diabetes de 2019, regista-se uma taxa de prevalência da doença de 13,6%, o que significa que mais de um milhão de portugueses entre os 20 e os 79 anos de idade têm diabetes.
O papel da alimentação
A reeducação alimentar é um dos pilares da prevenção e da
terapêutica da diabetes, pelo que é fundamental que o doente diabético aprenda a fazer uma alimentação equilibrada e
variada.
É essencial ter em atenção as quantidades a ingerir de cada alimento, aliando essa preocupação a uma
dieta diária que contenha elementos de todos os grupos da roda dos alimentos.
Alimentação fracionada é essencial
O diabético deve também evitar jejuns prolongados, nunca saltando refeições e alimentando-se de 3 em 3 horas, o que evita situações de hipoglicemia – concentração de glicose no sangue muito baixa que se manifesta através de sintomas como ansiedade, tremores, palpitações, entre outros. Se a hipoglicemia for grave podem surgir vertigens, confusão mental, fraqueza, dor de cabeça, anomalias da visão, convulsões e o diabético pode, até, entrar em coma.
A hipoglicemia também pode ser provocada pela prática intensa de exercício físico, pelo que é crucial que o médico aconselhe o diabético sobre os ajustes a fazer à alimentação e medicação quando pratica exercício físico, bem como o tipo de atividade física mais indicado.
Variedade e moderação
Uma dieta saudável e equilibrada não deve ser sinónimo de restrições, mas sim de cuidados diários. Um prato saudável deve conter fibras, hidratos de carbono e proteínas. Um exemplo é um prato composto por produtos hortícolas, carne ou peixe e leguminosas. É muito importante para os diabéticos saberem as quantidades que devem comer, assim como os equivalentes alimentares.
Os hidratos de carbono certos
Precisamos de hidratos de carbono para satisfazer as nossas necessidades energéticas diárias e deve ser sempre incluída uma porção de hidratos de carbono ao pequeno-almoço, pois permite reabastecer o organismo depois do jejum noturno e fornece energia para o resto do dia. Porém, os hidratos de carbono simples – açúcar, refrigerantes, doces e bolos – devem ser evitados, pois são digeridos rapidamente e possuem um índice glicémico bastante elevado, aumentando a absorção da glicose e podendo provocar uma hiperglicemia ocasional. Por sua vez, alimentos com um índice glicémico baixo fornecem energia mas retardam a absorção da glicose pelo sangue. Nesse sentido, os doentes diabéticos devem preferir hidratos de carbono complexos – cereais, batata, arroz, massa, leguminosas secas (feijão, grão e lentilhas). No total, os hidratos de carbono devem representar entre 50 a 60 % das calorias diárias ingeridas por um diabético.
Refeições no restaurante
Uma ida ao restaurante não tem de ser um problema para um diabético. O importante é saber que deve optar por alimentos mais saudáveis e ter em atenção as quantidades. Existem alguns conselhos que pode seguir:
- Opte pelas doses mais pequenas ou divida uma dose maior com uma das pessoas que esteja consigo.
- Se, ainda assim, as doses forem muito grandes, peça para guardarem o que sobrar numa caixa e leve para casa.
- Inicie a refeição por uma sopa, que é saciante e faz com que se ingira uma quantidade menor no prato seguinte.
- Evite buffets, pois mesmo uma pequena quantidade de diferentes tipos de alimentos no mesmo prato poderá representar um elevado número de calorias.
É importante fazer substituições
O doente diabético deve habituar-se a fazer substituições às refeições, de forma a poder desfrutar do prazer de comer sem que este seja prejudicial para a saúde. Assim:
- Em vez de batatas fritas escolha outro acompanhamento como salada ou legumes.
- Para temperar a salada use sumo de limão ou vinagre aromático ou opte por molhos de salada sem gordura.
- Reduza o consumo de sal optando por ervas aromáticas, especiarias ou sumo de limão para temperar os alimentos.
- Evite alimentos panados ou fritos.
- Evite bebidas ricas em calorias, como os refrigerantes.
- Não precisa de excluir sempre a sobremesa. Os doces constam como hidratos de carbono no plano de refeição, assim o “truque” é – exceto no caso da fruta – reduzir a quantidade de outros hidratos de carbono consumidos durante a refeição, como pão, arroz ou batata, para compensar a sobremesa.
A fruta faz bem à saúde
É comum pensar-se que o doente diabético não pode comer certo tipo de fruta por ser muito doce, como a manga ou a banana. Mais uma vez, o segredo está na porção que se ingere. Mas para saber que quantidade deve consumir precisa de saber quantos hidratos de carbono contém cada fruta. Na lista seguinte são apresentadas quantidades de fruta proporcionais a 15 gramas de hidratos de carbono:
- Meia banana.
- Meia chávena (83 gramas) de cubos de manga.
- Um quarto de chávena (190 gramas) de cubos de melancia.
- Um quarto de chávena (180 gramas) de framboesas.
- Três quartos de chávena de cubos de ananás.
Alimentação: princípios básicos para um diabético
- Comer uma variedade de alimentos saudáveis.
- Limitar o consumo de gordura e de sal na dieta diária.
- Ter em atenção a dimensão das porções e manter a coerência em todas as refeições.
- Instituir uma rotina para os horários das refeições poderá ajudar a equilibrar os níveis de açúcar no sangue.
- Seguir à regra as indicações nutricionais estabelecidas pelo médico.
A diabetes é uma doença crónica que exige disciplina e moderação. A reeducação alimentar é um pilar da terapêutica desta doença, aliada à prática de uma vida saudável. O segredo reside em saber fazer as escolhas alimentares certas nas proporções adequadas.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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