O essencial sobre as intolerâncias alimentares
- Uma intolerância alimentar acontece quando o organismo é incapaz de metabolizar algumas substâncias dos alimentos.
- Fique a saber quais os sintomas mais comuns associados às intolerâncias alimentares, o que fazer para os contornar, bem como as principais diferenças entre intolerâncias e alergias alimentares.
- Conheça ainda as cinco intolerâncias alimentares mais comuns.
Fala-se cada vez mais de alergias e intolerâncias aos alimentos, mas nem sempre é fácil perceber do que se trata exatamente. Explicamos-lhe o fundamental.
Nos últimos 15 anos os casos de alergias e intolerâncias alimentares estão a aumentar a nível global, estimando-se que até 20% da população mundial possa ter intolerância alimentar, o que justifica a preocupação com este tema. Falámos com a nutricionista Rita Talhas.
O que é, afinal, uma intolerância alimentar?
Uma intolerância alimentar ocorre quando o organismo é incapaz de metabolizar algumas substâncias dos alimentos, o que pode acontecer devido a um défice das enzimas responsáveis pela sua digestão.
Em geral, o problema está associado à absorção da lactose — o açúcar do leite, presente no leite de origem animal — e do glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, centeio, cevada, kamut e espelta, explica a nutricionista Rita Talhas.
Além da deficiência enzimática pode haver outros tipos de intolerâncias como a conservantes alimentares (sulfitos, benzoato sódico e glutamato monossódico, por exemplo) ou a compostos naturalmente presentes nos alimentos, como a cafeína, os salicilatos, as aminas e o glutamato. Por outro lado, alimentos como os queijos curados, o vinho tinto e o chocolate, “por terem substâncias vasoconstritoras, podem provocar cefaleias, náuseas e tonturas em pessoas suscetíveis”, refere a nutricionista.
Sintomas mais comuns
Os sintomas mais comuns de uma intolerância alimentar incluem:
- Distúrbios gastrointestinais, como diarreia e vómitos
- Dores nas articulações
- Edemas (inchaço)
- Enxaquecas
- Mal-estar geral
- Fadiga
- Erupções cutâneas
“Se o alimento é consumido muito ocasionalmente, os sintomas podem ser imediatos ou ocorrer poucas horas depois. Mas
se forem de consumo regular, pode não haver reação imediata e sim uma sintomatologia crónica”, explica a
nutricionista.
O que fazer?
Elaborar um diário alimentar pormenorizado, registando simultaneamente os sintomas, é o ponto de partida para identificar os alimentos responsáveis pelo problema. Um dietista ou nutricionista pode orientar uma dieta de exclusão alimentar que, normalmente, dura duas a seis semanas.
Depois, segundo Rita Talhas, “faz-se uma reintrodução progressiva de cada alimento de forma a chegar a um diagnóstico correto”. Havendo intolerância, a solução passa usualmente por excluir ou diminuir a quantidade do alimento responsável para minimizar a incidência e intensidade dos sintomas. Além disso, em alguns casos de deficiência enzimática é possível usar suplementos de uma enzima produzida industrialmente para ajudar na digestão.
A boa notícia é que, por vezes, a intolerância alimentar é temporária. Algumas desaparecem após se abdicar do consumo do alimento ou substância durante algum tempo. Em qualquer caso, é importante o acompanhamento de um nutricionista para evitar carências nutricionais que possam tornar-se graves.
Alergia ou intolerância?
De acordo com a nutricionista, a diferença é simples. “Na alergia dá-se uma ativação do sistema imunitário em resposta a determinadas substâncias. Nas intolerâncias, na maior parte das vezes existe uma deficiência de algumas enzimas. Esta deficiência não permite a digestão de certo alimento ou causa apenas uma reação fisiológica que não provoca ativação do sistema imunitário (que é o que carateriza a alergia)”.
Como tal, as consequências também são diferentes: na alergia, sempre que se come o alimento, mesmo que em pouca quantidade, há uma reação: urticária, inchaço nos lábios, olhos e orelhas ou, em casos extremos, uma reação anafilática que pode levar à morte. Já a intolerância pode ter vários graus e, nalguns casos, os sintomas só se manifestam quando o consumo é elevado.
Cinco intolerâncias alimentares mais comuns
1. Laticínios
A lactose é um açúcar encontrado no leite e produtos lácteos. Este é decomposto no corpo por uma enzima chamada lactase. A falta destas enzimas provoca uma incapacidade de digerir a lactose, resultando em sintomas digestivos.
Deverá evitar os laticínios e os seus derivados e optar por substitutos, como os leites vegetais.
2. Glúten
Glúten é o nome geral dado às proteínas encontradas no trigo, cevada e centeio. Várias condições estão relacionadas com o glúten, incluindo a doença celíaca, a sensibilidade ao glúten não celíaca e a alergia ao trigo.
Os sintomas da sensibilidade ao glúten não celíaca são semelhantes aos da doença celíaca e incluem:
- Inchaço abdominal
- Dor abdominal
- Diarreia ou obstipação
- Dores de cabeça
- Fadiga
- Dor nas articulações
- Erupção cutânea
- Depressão ou ansiedade
Tanto a doença celíaca quanto a sensibilidade ao glúten não celíaca são tratadas com uma dieta sem glúten, livre de alimentos e produtos que contenham glúten, incluindo:
- Pão
- Massa
- Cereais
- Cerveja
- Bolachas
- Molhos, especialmente molho de soja
3. Cafeína
A maioria dos adultos pode consumir com segurança até 400 mg de cafeína por dia sem efeitos colaterais. No entanto, algumas pessoas são mais sensíveis à cafeína e experimentam reações mesmo depois de consumir uma pequena quantidade. Essa hipersensibilidade à cafeína tem sido associada à genética, bem como à diminuição da capacidade de metabolizar e excretar a cafeína.
Pessoas com hipersensibilidade à cafeína podem apresentar os seguintes sintomas após consumir uma pequena quantidade :
- Batimentos cardíacos rápidos
- Ansiedade
- Nervosismo
- Insónia
- Inquietação
Pessoas com sensibilidade à cafeína devem minimizar a sua ingestão evitando alimentos e bebidas que contenham cafeína, incluindo café, refrigerante, bebidas energéticas, chá e chocolate.
4. Sulfitos
Os sulfitos são produtos químicos usados principalmente como conservantes em alimentos, bebidas e alguns medicamentos. Também se encontram naturalmente em alguns alimentos como uvas e queijos envelhecidos. Além disso, são adicionados a alimentos como frutas secas para retardar o seu escurecimento e vinho para evitar a deterioração causada por bactérias.
A sensibilidade ao sulfito é mais comum em pessoas com asma, embora pessoas sem asma também possam ser intolerantes aos sulfitos. Os sintomas incluem:
- Urticária
- Inchaço cutâneo
- Nariz entupido
- Tensão arterial baixa
- Diarreia
Alimentos que podem conter sulfitos:
- Frutos secos
- Vinho
- Cidra de maçã
- Legumes enlatados
- Alimentos em conserva
- Condimentos
- Batata frita
- Cerveja
- Chá
5. Frutose
A frutose é um açúcar simples que se encontra em frutas e vegetais, além de adoçantes como mel, agave e xarope de milho rico em frutose. Em pessoas com intolerância à frutose, esta não é absorvida eficientemente no sangue. Em vez disso, a frutose mal absorvida viaja para o intestino grosso, onde é fermentada por bactérias intestinais, causando desconforto digestivo.
Os sintomas de má absorção de frutose incluem:
- Refluxo gastroesofágico
- Gases
- Diarreia
- Náuseas
- Dor abdominal
- Vómitos
- Inchaço abdominal
Deve evitar o consumo dos seguintes alimentos ricos em frutose:
- Refrigerantes
- Maçãs
- Sumo de maçã e cidra de maçã
- Néctar de agave
- Alimentos que contêm xarope de milho rico em frutose
- Melancia, cerejas e peras
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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