Sol, música, yoga: qual o impacto na nossa saúde?
- Junho dá início aos meses de verão, trazendo consigo uma maior exposição solar e a celebração de datas que dizem respeito ao yoga e à música.
- Conheça a importância e a interligação entre estes fatores, que contribuem de formas complementares para o bem-estar físico e psicológico.
Em junho assinalam-se várias efemérides, entre elas, a do Dia Europeu da Música e o Dia Mundial do Yoga, bem como o conhecido solstício de verão. Com a ajuda de Mariana Correia da Silva, psicóloga clínica, procurámos saber o impacto da música, do yoga e do sol na nossa saúde global.
Interligadas: encontram-se assim a saúde física e a saúde mental, e este é o primeiro aspeto que Mariana Correia da Silva se propõe clarificar. O que é mental também é físico e vice-versa. Para a psicóloga clínica, a saúde é como um banco com três pés: um deles é o descanso (em sentido lato), o outro a atividade física e o terceiro a alimentação. “Tudo assenta nisto, das coisas mais simples às mais complexas. E é assim na vida de todos nós, sejam quais forem as circunstâncias”, afirma. Esta tríade “corresponde à matéria de que somos feitos” e “respeita a nossa história evolucionária”: o que aconteceu nos últimos tempos? “A nossa parte física sofreu alterações, mas a verdade é que não herdamos apenas os aspetos físicos, herdamos também mecanismos que vão influenciar o nosso bem-estar emocional e psicológico”.
A importância da criatividade
O que é importante é conseguir o equilíbrio entre os três pés. Para isso, contribuem as atividades criativas como a
música. E como encaixam essas atividades de modo a responderem ao nosso passado evolucionário? “A criatividade é o
que mais põe em comunicação não só com o outro, como connosco próprios. Tem um efeito congregador”, responde a
psicóloga clínica, dando como exemplo o facto de os homens pré-históricos, ainda antes de desenvolverem qualquer
linguagem formal, já se expressarem pela arte — como se pode atestar nas gravuras rupestres de Foz Côa, documentada
pelo National
Geographic.
As atividades criativas, defende a psicóloga clínica, permitem à pessoa redescobrir-se e
expressar-se, enquanto nos relembra que o nosso dia a dia está profundamente organizado, mentalizado. E, a este
propósito, a especialista cita a investigação desenvolvida pela norte-americana Brené Brown, professora
da Universidade de Houston, que, após entrevistar milhares de pessoas em todo o mundo, reconheceu um padrão nos
comportamentos humanos e concluiu que “a conexão é o que dá sentido e significado às nossas vidas”. “O poder da
conexão nas nossas vidas foi confirmado quando o receio da desconexão emergiu como a principal preocupação (nas
pessoas entrevistadas): o medo de que alguma coisa que se fez ou que não se conseguiu fazer, de que alguma coisa
sobre o que somos ou de onde viemos nos torne menos amados e menos merecedores. Aprendi que resolvemos esta
preocupação compreendendo as nossas vulnerabilidades e cultivando a empatia, a coragem e a compaixão”, escreve a
investigadora no seu site.
Físico + mental = Harmonia
Mariana Correia da Silva entende que, na era atual, há uma cisão profunda entre o físico e o mental, muito por via da instrumentalização do corpo no dia a dia. E o yoga, outra prática cuja celebração é uma efeméride em junho, contribui para restaurar essa harmonia. Tal como a criatividade. Porque seja a completar um puzzle, seja a desenhar, a criatividade é exigente da atenção, envolvente, o que a torna benéfica.
Neste contexto, a especialista destaca um outro trabalho, o de Mark Williams, professor emérito de Psicologia Clínica
da Universidade de Oxford, considerado uma referência no estudo do mindfulness, de tal forma que o método
que desenvolveu foi incorporado pelo sistema nacional de saúde britânico no tratamento e prevenção da depressão, tendo diminuído para
metade o risco de recaídas em doentes de alto risco.
Quando há dois anos esteve em Lisboa, para uma
conferência na Fundação Champalimaud, Mark Williams sublinhou a importância da conexão entre o físico e o mental,
defendendo que desperdiçamos momentos da nossa vida porque não estamos despertos, porque andamos em piloto
automático. Quando a mente está a divagar, isso significa que está desligada do corpo. Mas se a atenção mudar da
mente para o corpo, é possível reparar em sinais e em padrões e contrariá-los. O que o investigador propõe é que o
foco seja colocado num assunto de cada vez e não disperso.
Mariana Correia da Silva partilha da mesma opinião, sustentando que o lado útil do mindfulness reside precisamente em treinar a atenção integrando a consciência do corpo: não é ficar refém de um pensamento, mas também não é passar a vida a fugir dele: trata-se de praticar a autocompaixão. O que é benéfico, porque é totalizante. Tal como as atividades criativas.
Sol e saúde global
E o sol, qual o contributo do sol para a saúde? São conhecidos e reconhecidos os efeitos da luz solar sobre o organismo, nomeadamente a nível da pele e dos ossos devido à síntese de vitamina D. E são igualmente muito falados os efeitos para a saúde mental e psicológica: afinal, basta ver como a disposição parece mudar assim que o verão se aproxima no calendário…
Mas será que estes benefícios são comprováveis? Um estudo publicado por investigadores da Brigham Young University estabeleceu uma relação entre a quantidade de luz solar por dia. Isto é, o intervalo entre o nascer e o pôr do sol, e o bem-estar emocional. Quanto menos horas de sol por dia, maior o risco de sofrimento emocional. Esta é uma boa notícia para Portugal, onde há sol uma boa parte do ano.
Em conclusão…
O mês de junho traz consigo a transição para o verão (com o solstício), e, consequentemente, para dias mais longos e soalheiros, bem como efemérides que assinalam a celebração do yoga e da música, ambos companheiros de uma vida plena e saudável. Assim, estes três fatores contribuem para o bem-estar físico e emocional, podendo ser incorporados no dia a dia de cada pessoa com os benefícios acima listados.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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