A dislipidemia consiste na concentração anormalmente elevada de gordura no sangue (colesterol, triglicéridos ou ambos). Este fenómeno ocorre devido à desregulação dos mecanismos orgânicos que interferem com a metabolização das gorduras, provocando uma patologia denominada aterosclerose.
Os valores das lipoproteínas (biomoléculas que armazenam gordura) tendem a aumentar com a idade, sendo normalmente mais elevados nos homens do que nas mulheres, mas após a menopausa os géneros equiparam-se.
As dislipidemias podem ser:
- Hipercolesterolemia isolada (colesterol elevado).
- Hipertrigliceridemia isolada (triglicéridos elevados).
- Dislipidemia mista (colesterol e triglicéridos elevados).
Cada pessoa elimina as gorduras do sangue ao seu ritmo. Uma pessoa pode ingerir grandes quantidades de gordura e não ter o valor do colesterol total acima dos 200 mg/dl, enquanto outra pode seguir uma dieta com poucas gorduras e nunca ter o valor do colesterol total abaixo de 260 mg/dl. Esta diferença parece dever-se, em parte, à determinação genética, que define a velocidade com que as lipoproteínas entram e são eliminadas do sangue.
A maior parte das subidas nas concentrações de triglicéridos e colesterol são temporárias e não são graves, devendo-se principalmente à ingestão de gorduras.
A dislipidemia é um problema comum na população, sendo considerada um fator de risco altamente modificável para doenças cardiovasculares devido à influência do colesterol – uma das substâncias lipídicas clinicamente mais relevantes na aterosclerose. Algumas formas de dislipidemia podem também predispor à pancreatite aguda.
A dislipidemia é um problema comum na população.
Causas Primárias de Dislipidemia:
A dislipidemia pode dever-se a um defeito genético único, como na hipercolesterolemia familiar, ou devido a efeitos aditivos de múltiplos genes. Podem resultar numa superprodução defeituosa dos triglicéridos, de colesterol LDL (lipoproteínas de baixa densidade – Low Density Lipoproteins), ou distúrbios no metabolismo de colesterol HDL (lipoproteínas de elevada densidade – High Density Lipoproteins).
Problemas genéticos mais comuns:
- Deficiência de Apolipoproteína A, B, C ou E.
- Distúrbio de lipoproteínas alfa ou beta.
- Defeito no gene ABCA1 ou no gene LCAT.
- Distúrbios hormonais hereditários (como diabetes tipo I).
Causas Secundárias de Dislipidemia:
- Obesidade.
- Ingestão excessiva de gordura saturada.
- Resistência à insulina.
- Diabetes mellitus, não controlada.
- Consumo excessivo de álcool.
- Doença renal ou hepática.
- Hipotiroidismo.
- Hipófise hiperfuncionante.
- Cirrose biliar primária e outras patologias biliares.
Efeitos secundários de alguns medicamentos, como:
- Fármacos diuréticos - tiazidas.
- Alguns betabloqueadores.
- Anticoncecionais.
- Psicotrópicos.
- Estrogénios.
- Corticosteroides.
Em geral, os valores elevados das gorduras não provocam sintomas. Por vezes, quando os valores são particularmente altos, a concentração de gorduras forma depósitos nos tendões e na pele, denominados xantomas.
As concentrações muito altas de triglicéridos (800 mg/dl e mais) podem causar um aumento do tamanho do fígado e do baço e sintomas de pancreatite, com uma forte dor abdominal.
Tratamento de Dislipidemia
O diagnóstico é feito a partir da análise laboratorial, dos níveis plasmáticos de Colesterol total, LDL, HDL e Triglicéridos (colesterol total maior que 190 mg/dl, LDL maior que 100 mg/dl e/ou triglicéridos maior 150 mg/dl).
O tratamento farmacológico da dislipidemia só se inicia após a correção dos hábitos de vida, que muitas vezes é o suficiente para a normalização dos valores laboratoriais.
- Diminuição da ingestão de gorduras saturadas, aumentando a ingestão de lípidos monoinsaturados, de fibras e de hidratos de carbono complexos. A consulta de um nutricionista costuma revelar-se útil, para todas as faixas etárias.
- Limitação da ingestão de alimentos de origem animal (carne, leite e queijos gordos), açúcares e álcool.
- Aumento da ingestão de frutas, legumes e leguminosas.
- O exercício físico ajuda à redução dos valores de colesterol LDL e aumento de colesterol HDL, sendo essencial para controlar o peso e o índice de massa corporal.
Quando a alteração dos hábitos de vida não se mostra eficaz, muitos doentes necessitam de medicação (estatinas, fibratos, ácido nicotínico, sequestradores de sais biliares) de forma a reduzir o risco cardiovascular.
Dislipidemias Hereditárias
Os valores do colesterol e dos triglicéridos são mais elevados nas pessoas com dislipidemias hereditárias. Cada um dos cinco tipos principais da hiperlipoproteinémia provoca um perfil diferente de gorduras no sangue e um conjunto diferente de riscos.
A hiperlipoproteínemia tipo 1 (hiperquilomicronemia familiar) – é uma perturbação hereditária rara, presente desde o nascimento, em que o organismo é incapaz de eliminar os quilomicras do sangue.
- As crianças e os adultos jovens com hiperlipoproteínemia tipo 1 sofrem repetidos ataques de dor abdominal. Têm o fígado e o baço aumentados e desenvolvem depósitos cutâneos de gordura de cor rosa-amarelada (xantomas eruptivos).
- As análises de sangue mostram concentrações extremamente elevadas de triglicéridos. Esta perturbação não leva à arteriosclerose, mas pode causar pancreatite, que pode ser mortal. As pessoas com esta perturbação devem evitar comer gorduras de todos os tipos.
A hiperlipoproteínemia tipo 2 (hipercolesterolemia familiar) – é uma perturbação hereditária que provoca uma arteriosclerose acelerada e morte prematura, em geral de enfarte do miocárdio.
- As pessoas com hiperlipoproteínemia tipo 2 têm valores elevados de colesterol LDL. A concentração de gorduras forma depósitos (xantomas) nos tendões e na pele.
- Um em cada seis homens com esta perturbação sofre um ataque cardíaco aos 40 anos, enquanto dois em cada três sofrem-no aos 60.
- As mulheres com hiperlipoproteínemia tipo 2 também correm um risco elevado, mas com um começo mais tardio; aproximadamente uma em cada duas mulheres com esta perturbação terá um ataque cardíaco aos 55 anos de idade.
- As pessoas que têm dois genes para esta perturbação (uma incidência rara) podem apresentar valores de colesterol total de 500 a 1200 mg/dl e, com frequência, morrem na infância, de doença coronária.
- O tratamento passa por evitar o tabaco e o excesso de peso, administração de fármacos, dieta pobre em gorduras, e exercício físico.
A hiperlipoproteínemia tipo 3 – é uma perturbação hereditária pouco frequente que conduz a valores elevados de colesterol VLDL (proteínas de muito baixa densidade – Very Low-density Lipoprotein) e triglicéridos.
- Nos homens com hiperlipoproteínemia tipo 3, os depósitos gordos aparecem na pele na fase adulta precoce.
- Nas mulheres, estes aparecem de 10 a 15 anos mais tarde. O excesso de peso contribui para que o problema se manifeste antes.
- A aterosclerose obstrui com frequência as artérias e diminui o fluxo de sangue às pernas nas pessoas de meia-idade.
- As análises de sangue mostram concentrações elevadas de colesterol total e triglicéridos. Nestes indivíduos, o colesterol é, essencialmente, VLDL.
- Estes indivíduos têm com frequência diabetes ligeira e valores elevados de ácido úrico no sangue.
O tratamento pressupõe atingir e manter um peso ideal e ingerir menos colesterol e gorduras saturadas. Geralmente são necessários medicamentos que reduzam os lípidos. Os valores sanguíneos de gordura podem ser quase sempre reduzidos a valores normais, diminuindo assim a incidência da arteriosclerose.
Hiperlipoproteínemia tipo 4 – é uma perturbação frequente que afeta muitas vezes vários membros de uma mesma família, e provoca valores altos de triglicéridos.
- Esta perturbação pode aumentar o risco de desenvolvimento da arteriosclerose.
- As pessoas com hiperlipoproteínemia tipo 4 costumam ter muitas vezes excesso de peso e diabetes.
- É benéfico reduzir o peso, controlar a diabetes e evitar o consumo de álcool. Também é benéfica a administração de fármacos que reduzam os valores dos lípidos.
Hiperlipoproteínemia tipo 5 – é uma perturbação pouco frequente em que o organismo não pode metabolizar e eliminar suficientemente o excesso de triglicéridos.
- Podendo ser hereditária, esta perturbação também pode ser induzida pelo abuso de álcool, diabetes mal controlada, insuficiência renal ou ingestão de alimentos depois de um período de inanição. Quando é herdada, a perturbação manifesta-se, habitualmente, pela primeira vez, na fase adulta precoce.
- As pessoas com hiperlipoproteínemia tipo 5 podem ter um grande número de depósitos gordos (xantomas) na pele, um aumento no tamanho do fígado e do baço e dor abdominal.
- É frequente haver uma diabetes ligeira e uma grande concentração de ácido úrico.
- A maioria das pessoas com este tipo de hiperlipoproteínemia têm excesso de peso.
- A principal complicação deste quadro é a pancreatite, uma patologia que pode ser mortal.
- O tratamento consiste em evitar as gorduras na dieta, controlar o peso e não ingerir bebidas alcoólicas. Os medicamentos que reduzem os lípidos podem ser úteis.
Artigo revisto e validado pela especialista em Medicina Geral e Familiar Isabel Braizinha.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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