As Alergias de Outono
- O outono é uma estação que representa um despoletar de sintomas derivados de alergias.
- É importante evitar o contacto com agentes que induzam reações alérgicas, e adotar hábitos de vida saudáveis, nomeadamente em termos da alimentação
Com o outono, os dias mais frios e chuvosos estão de volta. Com eles, vêm também as crises alérgicas, típicas da mudança da estação. Conheça as causas e o que fazer para contornar os sintomas desta condição crónica. Saiba mais com esta entrevista a um especialista em imunoalergologia
O verão acabou, e não é só na descida de temperaturas que isso se faz sentir. Basta olhar em volta para ver que as pessoas, além de mais encasacadas, começaram a cumprir o ritual típico da época e que inclui espirros, comichões e nariz a pingar. Os habitués das alergias sabem que, a par da primavera, o outono é a estação menos amiga de quem vê o sistema imunológico afetado por ácaros, pólen ou outros agentes alérgicos. Por estarem em todo o lado, a alergologista Anabela Lopes considera-os “companheiros para a vida”, mas não no bom sentido. “Com o frio, ligamos mais os sistemas de aquecimento e isolamento, o que aumenta a temperatura e humidade das habitações, favorecendo o desenvolvimento dos ácaros”, explica. A especialista acrescenta que são os alergénicos mais frequentemente implicados na indução de doenças alérgicas, como a rinite e a asma.
Podes fugir mas não te podes esconder
Nesta luta desigual entre ambiente e corpo humano, existem agentes que saem vencedores, neste caso os agentes causadores de alergias. Segundo a especialista, “as alergias são uma resposta exagerada do nosso sistema imunológico quando expostos a uma série de alergénicos”. É a genética que dita se somos ou não propensos a esses agentes, que nos chegam tanto em forma de alimento como de fungo, ácaros ou pólenes. Se no caso da alergia respiratória, os ácaros, os pólenes, os fungos e os pelos de animais são os principais alergénios implicados, no caso dos alimentos estes podem ser desde o leite e o ovo, nas crianças, até ao marisco e aos frutos secos, nos adultos. Além disso, também os medicamentos podem causar alergias, assim como a picada de alguns insetos.
Mas, pior do que conhecer esta lista de agentes que podem ser causadores de alergia no nosso organismo, é saber que a maior parte das alergias não têm cura. Aquilo que os médicos conseguem garantir é o controlo dos sintomas. “Com a adequada intervenção terapêutica imunoalergológica, os doentes alérgicos podem permanecer sem sintomas durante longos períodos”, explica Anabela Lopes. Para isso, além do cuidado em evitar o contacto com o fator que causa alergia, o doente pode associar um tratamento clínico. “Na alergia respiratória - rinoconjuntivite e asma -, as vacinas anti-alérgicas podem ser tratamento especialmente úteis, porque são o único tratamento que interfere com o mecanismo imunológico da doença alérgica, o que resulta na melhoria dos sintomas, impedindo a evolução da doença para formas mais graves.”
Estarei com alergias ou com uma constipação?
Além de alergias, o tempo mais frio traz consigo também o aumento da ocorrência de outras doenças respiratórias, como a constipação ou a gripe. É importante, assim, reconhecer as diferenças entre estas condições.
De acordo com a John Hopkins Medicine, há algumas questões que se pode colocar para identificar se serão mesmo alergias. As verdadeiras questões diferenciadoras passam por saber se tem sintomas como o corrimento nasal ou desconforto na zona dos olhos, nariz e garganta com frequência, especialmente nesta altura do ano, sendo neste caso indicativo de alergias, ou se os sintomas surgiram de forma rápida e passaram ao fim de poucos dias, o que indicará uma gripe ou constipação. Outro sintoma diferenciador é a febre – este é característico de gripe, pode estar presente na constipação, e está ausente em caso de alergia. Um sintoma que pode distinguir as alergias é, também, a presença de prurido – mais frequentemente, nos olhos, nariz e garganta.
No entanto, a melhor forma de diagnosticar a sua condição passa pela procura de ajuda médica junto de um especialista.
O poder dos alimentos
Nas últimas décadas, deu-se um inevitável aumento das doenças alérgicas. Anabela Lopes relembra alguns dos fatores associados a esse crescimento, que vão desde a poluição ao aumento do consumo de medicamentos, passando pelo sedentarismo, obesidade e adoção de uma dieta ocidentalizada.
Esta ocidentalização cultural fez com que alguns hábitos mais saudáveis tenham caído no esquecimento, principalmente no setor alimentar. O último Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física indica que o país não respeita a dieta mediterrânica. Os portugueses comem cada vez mais carne, mais sal e mais açúcar, todos eles alimentos a evitar, principalmente para quem sofre de alergias. Igualmente inflamatório é o leite que, por irritar as mucosas, estimula a produção de muco, tornando-se um dos principais causadores de doenças como a rinite e a sinusite. Não admira que a alimentação macrobiótica, originária do Oriente, zona conhecida por sempre ter olhado para o alimento também como medicamento, exclua do seu dia-a-dia o leite e derivados, carnes vermelhas, açúcar e sal.
Como posso prevenir os sintomas causados pelas alergias?
O American College of Allergy recomenda alguns hábitos que podem ajudar a controlar o impacto das alergias no outono, especialmente aquelas causadas pelo pólen:
- Esteja atento/a ao nível de pólen e proteja as vias respiratórias quando este for alto. A Rede Portuguesa de Aerobiologia, proveniente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, oferece um Boletim Polínico que, semanalmente, fornece esta informação.
- Mantenha portas de casa e do carro fechadas, impedindo a entrada de agentes-gatilho de alergias.
- Tome um duche e lave o cabelo se permaneceu no exterior por um longo período de tempo.
- Faça a medicação recomendada por um especialista, preventiva ou de tratamento agudo de sintomas.
Além destas dicas, conheça também outras medidas de prevenção e redução do impacto das alergias no seu quotidiano.
Em conclusão…
Com o outono, existem vários tipos de alergénios que voltam a entrar em jogo. Além dos já conhecidos pólen e ácaros, a alimentação pode também ter um papel importante na gestão de reações alérgicas.
Assim, é importante que, durante esta temporada, evite o contacto com agentes alérgicos, como ácaros ou pólen, proteja-se das mudanças de temperatura e reduza o consumo de alimentos inflamatórios, como lacticínios e carnes vermelhas.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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