Pneumonia: saiba como prevenir esta infeção tão comum no inverno
- A pneumonia é responsável por milhares de mortes no nosso país, sendo uma das doenças respiratórias mais prevalentes.
- Existem sinais de alerta, formas de contágio e fatores diferenciadores aos quais deve manter-se atento.
- Conheça algumas dicas para a prevenção desta doença da pneumologista Inês Quintinha Faria.
Segundo Instituto Nacional de Estatística (INE), as doenças respiratórias são uma importante causa de morte em Portugal, sendo a pneumonia uma das mais prevalentes em 2020 (38,7%).
Entre as doenças respiratórias, a pneumonia é uma das mais preocupantes, não só porque afeta sobretudo as pessoas mais vulneráveis, mas porque é comum e implica grandes riscos. A pneumologista Inês Quininha Faria explica o que é, como se previne e como se trata esta infeção.
Em Portugal, o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias de 2020 nota que cerca de 5,1% das mortes são causadas por pneumonia. O mesmo documento nota que, entre os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal tem uma das mais elevadas taxas de mortalidade por pneumonias. A nível mundial, segundo a OMS, a pneumonia causa mais de 15% das mortes em crianças entre os 0 e os 5 anos.
Sendo que esta doença assume uma expressão relevante, esclarecemos algumas dúvidas com Inês Quininha Faria, pneumologista.
O que é e como se manifesta a pneumonia?
Segundo a especialista, “a pneumonia é uma infeção nos pulmões, que atinge principalmente os alvéolos, que são as zonas onde se realizam as trocas gasosas e que permitem a distribuição do oxigénio no nosso organismo”. Em relação à evolução desta infeção, pode ser “muito variável, desde benigna ou com pouca gravidade a mais grave e com necessidade de internamento que, por vezes, pode ser em cuidados intensivos”.
Quanto aos sintomas, os mais comuns são febre, tosse — muitas vezes com expetoração —, dor no peito ou nas costas e falta de ar. “Estas queixas ou sintomas podem estar todos presentes na mesma pessoa ou apenas surgirem alguns deles,” o que depende da extensão da infeção, do estado de saúde prévio e da idade do doente, segundo a pneumologista.
Mas, no caso das crianças e os idosos, é preciso atenção redobrada, já que “os sintomas podem ser menos específicos”. Por exemplo, “nos bebés, a pneumonia pode começar a manifestar-se com recusa alimentar ou perda da vontade de brincar e nos idosos pode inicialmente surgir associada a confusão mental”.
Como se dá o contágio?
Na maior parte dos casos, as pneumonias são infecciosas, ou seja, são causadas por bactérias, vírus, fungos ou parasitas. De acordo com Inês Quininha Faria, “as bactérias são os agentes infeciosos mais frequentes no adulto, sendo o mais comum o Streptococcus pneumoniae, vulgarmente conhecido por pneumococos”. Já nas crianças mais pequenas, principalmente até aos 2 anos de idade, “as pneumonias são frequentemente virais,” principalmente derivadas do vírus sincicial respiratório.
A pneumologista afirma que estes micro-organismos chegam aos pulmões “através da aspiração de bactérias que existem na região do nariz e da garganta, que em certas circunstâncias se tornam mais agressivas, ou através de contágio externo, pelo contacto com partículas infetadas que provêm quer de pessoas doentes quando tossem ou espirram, quer de animais ou do meio ambiente, como é o caso de gotículas de água contaminada por legionella”.
Como se sabe se é pneumonia?
Quem se enquadra nos grupos de risco ou apresenta sintomas há mais de três dias deve consultar um médico, “já que a auscultação pulmonar e a realização de uma radiografia de tórax poderão confirmar a presença desta infeção”, esclarece a pneumologista. “A tomografia computorizada torácica não tem indicação em todas as situações de pneumonia, devendo ficar reservada para os casos mais graves ou para aqueles em que a evolução não está a ser favorável”, salienta, identificando as análises ao sangue ou à expetoração como possivelmente úteis para o diagnóstico.
Quem está em risco?
Qualquer pessoa pode desenvolver uma pneumonia, mas “o maior risco para a sua ocorrência é a existência de fragilidade do sistema imunitário”, sendo os grupos mais expostos:
- Crianças em idade pré-escolar;
- Idosos;
- Pessoas com doenças crónicas, como doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), diabetes mellitus, infeção pelo vírus da SIDA e insuficiência cardíaca ou renal;
- Pessoas com doença oncológica (cancro), principalmente se estiverem a fazer tratamento com quimioterapia ou radioterapia;
- Doentes a usar medicamentos imunossupressores, que diminuem as defesas do organismo;
- Pessoas que vivem em instituições sociais ou lares, pela convivência com outras pessoas debilitadas e pela afluência de visitantes potencialmente propagadores da infeção;
- O tabagismo e o alcoolismo são também fatores de risco.
Porquê no inverno?
As pneumonias podem surgir em qualquer altura do ano, mas “o risco aumenta muito nos meses frios, por ser o período das infeções virais”, adverte a especialista. Com efeito, “as infeções virais, tais como a gripe, aumentam o risco de pneumonia, havendo alteração dos mecanismos de defesa do aparelho respiratório, o que torna a pessoa mais vulnerável a outras infeções respiratórias, nomeadamente as de origem bacteriana”, justifica. Além disso, “nesta altura do ano é mais frequente protegermo-nos do frio em locais fechados, como centros comerciais, por exemplo, ou utilizar mais os transportes públicos, onde há um maior aglomerado de pessoas, o que também facilita a propagação das infeções”, acrescenta.
Como se trata?
Além de uma adequada nutrição e descanso, a pneumologista destaca a necessidade de “medicamentos para a infeção e para ajudar a minimizar os sintomas”. Em relação aos antibióticos, estes apenas “estão indicados no caso das pneumonias bacterianas e, quando são receitados, devem ser tomados de acordo com as indicações do médico no que diz respeito às horas de administração e à duração do tratamento”, afirma, reforçando a importância de continuar o tratamento mesmo que os sintomas diminuam ou desapareçam.
Há, ainda, que reforçar a ingestão de líquidos que, “em casos mais graves, poderá ter de ser através de soro administrado pelas veias”. A hidratação serve para repor a perda de líquidos causada pela febre e pode facilitar a eliminação da expetoração.
Salienta que os medicamentos para a tosse (antitússicos) “são geralmente desaconselháveis, porque a tosse é um mecanismo de limpeza das vias aéreas”. Quanto aos medicamentos para baixar a febre (antipiréticos), a pneumologista diz que “temporariamente podem ser utilizados”, mas, caso a temperatura elevada persistir, esta “pode ser sinal de má evolução da pneumonia, sendo aconselhável uma reavaliação médica.”
Quais são os riscos?
Sendo que a pneumonia atinge sobretudo os alvéolos pulmonares, “se a infeção for extensa ou ocorrer numa pessoa com outras doenças crónicas, pode haver insuficiência respiratória e, nos casos mais graves, pode mesmo ser necessário a ajuda exterior de uma máquina para respirar, ou seja, um ventilador”. Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em 2019, observavam-se 80 internamentos diários por pneumonia no nosso país.
A pneumologista explica que “mesmo com um correto tratamento podem existir casos em que surgem complicações associadas a esta infeção, que devem ser prontamente identificadas e tratadas, pela gravidade que podem vir a ter”. De facto, “em alguns casos de maior gravidade, os micro-organismos podem atingir a corrente sanguínea e assim disseminar a infeção, podendo haver falência de vários órgãos” — esta situação impõe o internamento numa unidade de cuidados intensivos.
Inês Quininha Faria lembra que “o tratamento inicial da pneumonia bacteriana é feito com antibióticos que, apesar de serem prescritos sem se conhecer o micro-organismo causador da infeção, são, na maioria dos casos, eficazes.” Contudo, explica, nalguns casos a infeção poderá não ter uma evolução favorável, “o que pode implicar mudança de antibiótico após avaliação pelo médico”. Por isso, o doente deve estar sempre atento à evolução do seu estado de saúde e voltar ao clínico se não notar evolução positiva.
Como prevenir?
Estes são alguns dos seus conselhos para ajudar a prevenir a pneumonia já este inverno:
- Estilo de vida saudável – Alimentação equilibrada, sem consumo de tabaco, saúde oral cuidada, prática regular de exercício físico e bons hábitos de sono — assim, é possível preservar e até estimular as defesas naturais do nosso organismo.
- Vacina antipneumocócica – A indicação para a vacinação depende da idade e da existência de doenças crónicas, pelo que a sua prescrição deve ser sempre discutida com o médico.
- Vacina antigripal – Aconselhável em certos grupos de pessoas, porque a gripe associa-se ao aumento do número de casos de pneumonia. Discuta a possibilidade desta lhe ser recomendada com o médico ou farmacêutico.
- Hábitos de higiene – Lavar as mãos com frequência (sobretudo depois de usar transportes coletivos ou frequentar espaços públicos, como centros comerciais ou hospitais) e tossir ou espirrar na direção do cotovelo ou para um lenço de papel que deve ser deitado fora de imediato.
- Medidas de proteção – Nos casos de pessoas com maior fragilidade ou pertencentes aos grupos de risco para ter pneumonia, deve ser evitado o contacto com outros indivíduos com sintomas de infeção respiratória ou, em caso de necessidade, devem ser utilizadas medidas de proteção.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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