Tenho diabetes - e agora?

Saúde e Medicina
Última atualização: 03/08/2022
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São muitas as dúvidas de quem acaba de saber que tem diabetes. Esclarecê-las é meio caminho andado para melhor lidar com a doença.

Os diagnósticos de diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) são cada vez mais frequentes, com a Organização Mundial de Saúde a considerar que esta doença assume já contornos de pandemia. A verdade é que em Portugal, de acordo com dados do Observatório Nacional da Diabetes de 2019, regista-se uma taxa de prevalência da doença de 13,6% – uma das mais elevadas da Europa –, o que significa que mais de um milhão de portugueses entre os 20 e os 79 anos de idade têm diabetes.

De cada vez que uma pessoa recebe um diagnóstico de diabetes, são muitas as dúvidas que surgem e a incerteza pode ser grande. Antes de mais, importa esclarecer que a diabetes resulta de uma diminuição da produção de insulina e de uma deficiente ação desta hormona segregada pelo pâncreas nos tecidos periféricos.

As principais complicações associadas à diabetes prendem-se com o efeito que a mesma tem ao nível dos vários órgãos, resultante dos elevados níveis de açúcar no sangue. Segundo a OMS, a diabetes é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal, ataques cardíacos, acidente vascular cerebral e amputação de membros inferiores, tendo sido em 2019, a nona principal causa de morte em todo o mundo, com uma estimativa de 1,5 milhão de mortes causadas diretamente por esta doença.

Respostas às dúvidas mais frequentes

De acordo com a médica Teresa Laginha, especialista em Medicina Geral e Familiar, há algumas dúvidas e preocupações que são frequentes em quem acaba de receber um diagnóstico de diabetes, tendo destacado algumas:

Tenho receio de vir a ter complicações nos olhos e rins ou de vir a sofrer uma amputação.

A probabilidade de aparecimento de complicações nos olhos, rins e membros inferiores aumenta com a elevação dos níveis de açúcar no sangue. Se mantiver os níveis de glicemia adequados e fizer rastreios regulares da retina e da saúde dos pés, há maiores probabilidades de evitar estas complicações.

O que é que posso comer? Será que tenho de deixar de comer tudo aquilo de que gosto?

As alterações a fazer na alimentação são as consideradas saudáveis para toda a gente e não apenas para quem tem diabetes. É importante que a pessoa compreenda que esta é uma oportunidade para mudar para melhor, para passar a fazer escolhas mais equilibradas e que lhe vão trazer mais qualidade de vida a todos os níveis.

Tenho receio de ter de vir a ser medicado com insulina.

Ao contrário do que era feito no passado, hoje a insulina não é uma terapêutica de “fim de linha”. Essa prática – a de só receitar insulina quando todas as estratégias terapêuticas falharam antes – está hoje ultrapassada. Pelo contrário, quando indicada, a insulina permite controlar melhor e mais facilmente a glicemia, aumentando o bem-estar físico do doente. Atualmente, os dispositivos de administração de insulina disponíveis no mercado são simples e minimamente dolorosos, sendo que os esquemas terapêuticos com insulina são muito diversificados.

Sinto desconforto por ter de avaliar diariamente a glicemia.

É importante fazer a autoavaliação regular, porque esta é a maneira mais eficaz de ajudar na tomada de decisão relativamente ao tratamento da diabetes. Se esta automonitorização não for realizada não há informação para saber como ajustar a medicação. Ainda assim, a autoavaliação deve ser adaptada às necessidades de cada pessoa, sendo que existem alternativas disponíveis que permitem reduzir o desconforto da picada.

Tenho medo de transmitir a doença.

A transmissão da DMT2 não é controlável, mas todas as medidas que permitam a adoção de estilos de vida em família mais saudáveis ajudam a evitar a diabetes.

Enquadrar a doença na vida de cada um

“Ouvir e responder a dúvidas e receios” é, pois, uma das dimensões que Teresa Laginha considera importantes na consulta da pessoa com diabetes. Para a especialista é ainda fundamental “enquadrar o diagnóstico do ponto de vista individual, familiar e profissional”, tendo em conta que o doente é um todo composto por diversas dimensões, as quais têm de ser consideradas para melhor controlar a diabetes, uma doença muito relacionada com o estilo de vida.

A médica sublinha ainda a tarefa de “ajudar a identificar objetivos de mudança”, mas também a de “motivar e acompanhar essas mudanças”, prestando atenção para “prevenir a desmotivação”. Nesse sentido, aponta o “reforço positivo” como essencial, mas também destaca que é necessário que o profissional de saúde “identifique os recursos internos e externos do doente”, ou seja, que consiga perceber de que forma este consegue – sozinho ou com o apoio de quem o rodeia – gerir todos os desafios trazidos pela doença.

O que tenho de fazer já?

Perante a dúvida, também muito frequente, relacionada com o tipo de mudanças que devem ser introduzidas de imediato, Teresa Laginha destaca “as que vão no sentido do emagrecimento, caso a pessoa tenha excesso de peso”. Ao mesmo tempo, refere que “é importante que a pessoa altere hábitos alimentares prejudiciais, contrarie o sedentarismo e evite o tabagismo”.

Além das alterações comportamentais, a especialista reconhece que “aumentar os conhecimentos sobre a doença e trocar informações com outras pessoas com a mesma condição” são fatores que ajudam a superar o embate de se saber que se tem uma doença crónica como a diabetes.

Por outro lado, acentua a relevância de a pessoa “aprender a fazer escolhas alimentares saudáveis”. Para tal, e porque o ponto de partida é a compra dos alimentos, sugere que o doente “aprenda a ler os rótulos dos produtos”, para ter noção da percentagem de hidratos de carbono presente, por exemplo, e passe a “evitar os alimentos processados”.

“Maior autonomia e capacitação da pessoa com diabetes” são também, para Teresa Laginha, elementos que ajudam o doente a cuidar melhor de si. Da mesma maneira que “evitar o isolamento” é determinante para se encarar a doença de frente e fazer o que for necessário para a controlar. Com esse intuito, entende que pode também ser tarefa do profissional de saúde “fornecer contactos que possam ser utilizados em caso de dúvida no intervalo das consultas”.

O que esperar dos tratamentos?

Atualmente, estão disponíveis no mercado diversas classes de medicamentos para tratar a diabetes. Cabe ao especialista a escolha do mais adequado, tendo em conta a situação específica da pessoa em causa, sobretudo os valores da glicemia e também a existência, ou não, de outras doenças, nomeadamente cardiovasculares. Ainda assim, Teresa Laginha frisa a “importância de o doente discutir com os profissionais de saúde os objetivos e as opções terapêuticas individualizadas”, para garantir que o doente está confortável com a terapia prescrita. Só assim se consegue que a medicação seja cumprida.

Da mesma forma, e tendo em conta alguns medicamentos mais recentes, “o médico poderá dar primazia a fármacos que oferecem benefícios cardiovasculares comprovados”. De qualquer forma, “há que levar a cabo uma intervenção multifatorial, aliada ao reforço das alterações dos estilos de vida”, ou seja, “os melhores resultados obtêm-se conjugando os medicamentos com as necessárias alterações de comportamento”.

Como sei se tenho diabetes?

São três os sintomas que podem levar à suspeita de DMT2:

  • Aumento da frequência urinária;
  • Sede constante;
  • Mais fome do que o habitual.

Além disto, podem verificar-se infeções geniturinárias e algumas alterações da pele e da visão. Perante estes sintomas, o médico solicitará a realização de algumas análises relativas aos níveis de açúcar no sangue, nomeadamente, em jejum; depois de uma sobrecarga de açúcar (para conhecer como reage o pâncreas depois das refeições) e procurará saber, se possível, a média das glicemias nos dois a três meses anteriores.

Importância do diagnóstico precoce

Antes de se falar em tratamento, Teresa Laginha prefere colocar o acento tónico na prevenção da diabetes, “prioridade que deve estar presente na mente de todos”, diz, acrescentando a necessidade de se diagnosticar precocemente, de preferência antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Para tal, chama a atenção para o perfil das pessoas que devem fazer análises à glicemia:

  • 45 anos de idade ou mais;
  • Excesso de peso ou obesidade;
  • Perímetro de cintura superior a 80 centímetros nas mulheres e 94 centímetros nos homens;
  • Alterações dos resultados anteriores das análises de glicemia;
  • Familiares de primeiro grau com DMT2;
  • Mulheres que tiveram diabetes durante a gravidez;
  • Alteração das gorduras no sangue e tensão arterial elevada.

“Se a diabetes for detetada logo no início, é possível atuar de forma a minimizar o impacto da doença, envolvendo a pessoa na mudança de comportamentos, nomeadamente através de uma alimentação mais saudável e da prática de atividade física, a que se junta a terapêutica adequada”, sintetiza a especialista.

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