Doenças das mulheres: aposta na prevenção
- Alguns dos cancros que mais frequentemente afetam as mulheres são: os cancros da mama, colorretal, uterino, cervical e ovarino;
- Saber mais sobre estes cancros e o que pode fazer para ajudar a preveni-los ou encontrá-los cedo (quando são pequenos, não se espalharam e podem ser mais fáceis de tratar) pode ajudar a salvar a sua vida.
Embora algumas doenças mais prevalentes nas mulheres afetem também a população masculina, o cancro do colo do útero e o cancro da mama são tidas como as doenças femininas por excelência. A prevenção ativa e o rastreio são determinantes para o sucesso do tratamento destas patologias.
As atuais medidas de prevenção e os rastreios sistemáticos permitem que as lesões do colo do útero sejam diagnosticadas cada vez mais precocemente, permitindo tratamentos menos invasivos e mais altas taxas de cura. É esta a perceção do obstetra Jorge Lima para quem “só é possível a redução da incidência e da mortalidade por cancro do colo do útero através de medidas de prevenção primária, como a vacinação profilática contra o HPV, e de prevenção secundária, com a realização de um teste de rastreio ao colo do útero”.
Cancro do colo do útero
Em Portugal, estima-se que 22 a 29% das mulheres entre os 18 e os 29 anos possam estar infetadas por um ou mais tipos de HPV. O uso de preservativo é importante, protege das infeções sexualmente transmissíveis e de uma gravidez não desejada, mas não assegura uma proteção completa no caso do HPV.
O rastreio — que pode usar como testes a citologia convencional, a citologia em meio líquido e o teste de HPV ou a combinação dos dois últimos — deverá ser feito a partir dos 21 anos (ou três anos após o início da vida sexual da mulher) até aos 65/70 anos. “O cancro do colo é muito raro antes dos 21 anos e nos primeiros três anos após o início da vida sexual, pelo que o rastreio não está recomendado antes de cumpridas essas condições. Já o risco de uma mulher com mais de 65/70 anos com três citologias negativas vir a ter um cancro do colo do útero é muito reduzido”, explica Jorge Lima.
Existem mais de 120 tipos diferentes de HPV, dos quais 40 afetam preferencialmente os órgãos genitais (vulva, vagina, colo do útero, pénis e ânus). Dividem-se em tipos de alto e baixo risco, em função das doenças que causam. Nos HPV de alto risco incluem-se os tipos 16 e 18, que são responsáveis por 75% das lesões mais graves (cancerosas).
Para o especialista, a combinação da citologia com o teste do HPV aumenta a sensibilidade do rastreio, pelo que, uma mulher com ambos os testes negativos tem muito poucas probabilidades de vir a desenvolver uma lesão de alto grau ou mesmo cancro. Por outro lado, mulheres com citologias suspeitas devem ser orientadas para a realização de colposcopia com a realização eventual de biopsia dirigida, recomenda o obstetra.
Mesmo realizando rastreios regulares, há sintomas a que as mulheres devem estar atentas. Os principais — e que obrigam a uma ida ao médico caso persistam — são a hemorragia vaginal anormal, hemorragia menstrual mais prolongada do que o habitual, corrimento anormal por vez sanguinolento, hemorragia após a menopausa e hemorragia ou dores após as relações sexuais.
“O mais importante é diagnosticar e tratar das lesões precoces do colo que podem progredir para cancro do
colo invasivo”, afirma Jorge Lima. Feito o diagnóstico, são realizados exames que permitem determinar o estadiamento
do cancro.
Os tratamentos a adotar e a taxa de sobrevida estão diretamente relacionados com o estádio da doença, com as taxas de
sobrevivência a serem tanto maiores quanto menos avançado estiver o cancro.
Na maioria dos casos, a infeção provocada pelo HPV desaparece espontaneamente ao fim de 1 a 2 anos. Nos casos em que
o HPV não é eliminado, a infeção pode progredir para doença. Não é possível prever quem irá desenvolver doença
associada ao vírus.
A importância do diagnóstico atempado
Apesar de todos os avanços ao nível do tratamento e diagnóstico, o cancro da mama continua a ser a neoplasia mais frequente no sexo feminino. “Afeta uma em cada nove mulheres e, na União Europeia, é a causa mais frequente de mortalidade entre os 35 e 55 anos”, lembra Jorge Lima. Em Portugal, anualmente são detetados cerca de 7.000 novos casos de cancro da mama, e 1.800 mulheres morrem com esta doença.
Não é conhecida uma causa específica para o cancro da mama. A investigação tem demonstrado que há mulheres que apresentam um risco aumentado para cancro da mama, que se pensa estar associado a determinados fatores de risco: idade; primeira gravidez após os 31 anos; inatividade física; bebidas alcoólicas; obesidade após a menopausa; historial genético; raça (mulheres caucasianas têm uma maior probabilidade).
Atualmente não existem medidas eficazes capazes de prevenir ou curar a doença, mas, na verdade, mais de 90% das doentes com cancro podem ser curadas caso este seja detetado precocemente.
“De acordo com as normas da Direção-Geral de Saúde, nas mulheres assintomáticas com menos de 50 anos e sem risco aumentado de cancro da mama não está recomendada a realização de mamografia de rastreio”, afirma Jorge Lima. Assim, a mamografia de rastreio deve ser realizada, a cada dois anos, pelas mulheres entre os 50 e 69 anos. Em mulheres com prótese ou elevada densidade mamária, a ecografia é usada como exame complementar.
Se ao fazer o autoexame (ou por acaso) a mulher detetar um nódulo mamário, retração, edema ou pele mais espessa, retração, eczema ou corrimento do mamilo, é essencial que seja submetida a um estudo de imagem. “A ecografia mamária é a primeira opção de exame nas mulheres com menos de 35 anos”, afirma Jorge Lima que deixa ainda a recomendação: todas as mulheres sintomáticas ou com suspeita de doença da mama devem ser referenciados a serviços clínicos especializados em patologia mamária classificados com os mais recentes critérios europeus de qualidade.
Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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